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terça-feira, 15 de julho de 2025

Ida às Ilhas Desertas



  Não foi a minha primeira vez nas Ilhas Desertas— em outubro de 2024, já tinha vindo com a min ha turma da universidade para fazer mergulho na reserva. No entanto, fomos surpreendidos pela presença de um lobo marinho no calhau, o que nos impediu de mergulhar. Ainda assim, lanchámos na Deserta Grande e fizeram-nos uma pequena visita guida. Por isso, quando voltei agora pela segunda vez, já estava mais familiarizada com a ilha.





Nas últimas duas semanas, estive novamente na Reserva Natural das Ilhas Desertas, onde aprendi a manusear aves marinahs como as cagarras e as almas-negras. Tive a oportunidade de oexplorar os ninhos e observar o comportamento das aves durante a época de incubação. Na viagem de ida, fomos de catamarã, onde avistamos jangadas de cagarras e algumas almas negras a sobrevoar as ondas. Foi uma viagem relaxante e ainda conseguimos observar golfinhos roazes a passar perto do barco. Ao chegar fomos muito bem recebidos pelos vigilantes do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza (IFCN), que foram a nossa companhia desde o momenot que chegamos. Foram super acolhedores e bem dispostos, sempre com histórias de vida interessantes para partilhar. Aproveitei, no meu tempo livre, para acompanha-los na sua busca pelos lobos-marinhos para monitorizar o estado da espécie. 


O nosso trabalho de campo consistiu na procura de ninhos de cagarra e alma-negra bem como na avaliação da sua ocupação. Realizamos também um trabalho chamado plots, que consiste na marcação de pontos em pedras ao longo da costa da ilha, onde tínhamos que procurar ninhos num raio de 10 metros. O objeivo era encontrar 40 dessas marcas — e com sorte encontramos 36! As outras quatro suspeitamos que estavam junto a escarpa, um lugar perigoso já que estavam sempre a cair pequenas pedras.

Também realizámos a colocação de dispositivos GPS e GLS nas cagarras, com o objetivo de monitorizar os seus movimentos no mar e analisar as rotas que percorrem nesta fase da incubação.O GPS permite obter coordenadas exatas e seguir os seus movimentos em detalhe, enquanto o GLS, embora com maior margem de erro nas localizações, mede a interação das aves com fontes de luz externas — como a poluição luminosa, luzes de barcos ou outras estruturas.

 Além disso algumas destas cagarras precisaram de ser anilhadas bem como serem pesadas e tirados os seus comprimentos do bico, da asa e do tarso (que fica abaixo da articulação do joelho e acima dos dedos). Estes animais são anilhados, principalmente para fins de identificação e investigação. Estas anilhas, são normalmente feitas de metal e contêm números de identificação únicos que permitem aos biologos seguir as aves individualmente, monitorizar os seus movimentos e estudar o seu comportamento, tempo de vida e padrões de reprodução. .

O meu estágio na SPEA

Chamo-me Mariana, sou natural do Funchal e durante 1 mês vou estagiar na SPEA. Sou estudante de licenciatura em Biologia na Universidade de Coimbra. Desde sempre tive um grande interesse em animais e plantas e, por isso, escolher biologia foi natural para mim. Neste mês que vou passar na SPEA espero adquirir conhecimentos sobre a conservação de aves marinhas e ganhar também alguma experiência nesta área.

Vou auxiliar em dois projetos, o LIFE Natura@night e o BESTLIFE2030 STOP Predators. O LIFE Natura@night tem como objetivo reduzir a poluição luminosa que afeta as áreas protegidas dos Arquipélagos da Madeira, Açores e Canárias e mitigar o impacto nas espécies protegidas. O BESTLIFE2030 STOP Predators tem como objetivo promover a criação de medidas locais para o controlo e erradicação de espécies introduzidas minimizando os impactos na biodiversidade. No primeiro projeto vou ajudar na implementação de localizadores GPS em cagarras (Calonectris borealis) e garantir o armazenamento de fotos essenciais para um plano de disseminação da poluição luminosa. No segundo projeto vou testar armadilhas de câmaras de visão noturna, ajudar com pesquisa de plantas exóticas e nativas e também com a análise de dados.

Com o crescente aumento de ameaças às aves em Portugal e não só, a SPEA representa um esforço coletivo para tentar mitigar os impactos destas ameaças e, por isso, tem uma grande importância na conservação de espécies. Fazer parte deste projeto é uma honra para mim e estou muito grata.



(English version)

My name is Mariana, I'm from Funchal, and I'll be interning at SPEA for a month. I'm a Biology undergraduate student at the University of Coimbra. I've always had a keen interest in animals and plants, which is why choosing biology was natural for me. During my month at SPEA, I hope to learn about seabird conservation and gain some experience in this area.

I'll be assisting on two projects: LIFE Natura@night and BESTLIFE2030 STOP Predators. LIFE Natura@night aims to reduce light pollution affecting protected areas in the Madeira, Azores, and Canary Islands archipelagos and mitigate the impact on protected species. BESTLIFE2030 STOP Predators aims to promote the creation of local measures to control and eradicate introduced species, minimizing their impact on biodiversity. In the first project, you'll help implement GPS tracking for Cory's shearwater (Calonectris borealis) and ensure the storage of essential photos for a light pollution awareness plan. In the second project, I'll test night vision camera traps, assist with exotic and native plant research and with data analysis.

With the increasing number of threats to birds in Portugal and beyond, SPEA represents a collective effort to mitigate the impacts of these threats and, therefore, plays a crucial role in species conservation. Being part of this project is an honor for me, and I am deeply grateful.

terça-feira, 8 de julho de 2025

O Início da Minha Jornada com a SPEA

 


O meu nome é Valeria, venho da Sardenha e estou atualmente na Madeira ao abrigo do programa Eurodisseia. A minha formação académica em Ciências Naturais e as experiências internacionais no terreno em biodiversidade, agroecologia, educação ambiental e conservação da natureza trouxeram-me até aqui com um forte desejo de contribuir para a conservação das aves marinhas na ilha.

A minha participação neste projeto nasce da vontade de combinar conhecimento científico, comunicação e ação prática para proteger as colónias de aves marinhas e os ecossistemas frágeis que estas representam. Na SPEA Madeira, colaboro no projeto europeu LIFE Natura@night, centrado no estudo e na proteção das colónias de aves marinhas da rede Natura 2000 no arquipélago. Estas colónias, especialmente as de Cagarra (Calonectris borealis), estão sujeitas a várias pressões, como a poluição luminosa, a perturbação humana e as espécies invasoras

O meu trabalho envolve o apoio a levantamentos de campo para caracterização dos locais de nidificação, a participação em campanhas de monitorização e salvamento durante a época de emancipação, bem como a colaboração em ações de educação ambiental e sensibilização pública. Estas ações integram um esforço mais amplo para compreender como a atividade humana afeta o comportamento e a sobrevivência das aves marinhas, e para promover a coexistência através de práticas locais mais conscientes.

Como alguém que cresceu numa ilha, sinto uma ligação profunda com os desafios enfrentados pelos ecossistemas insulares. Desenvolvi uma forte sensibilidade para problemas como a fragmentação de habitats, a pressão do turismo, a presença de espécies exóticas invasoras e os efeitos crescentes das alterações climáticas. Estas pressões afetam frequentemente espécies que nidificam em silêncio, em falésias escondidas ou em ilhéus inacessíveis — aves cuja sobrevivência depende da nossa capacidade de observar, compreender e agir com respeito.

Acredito que a conservação deve ser simultaneamente local e coletiva. Trata-se de escutar a natureza, colaborar entre culturas e transformar a consciência em cuidado. Estar aqui com a SPEA permite-me não só aprofundar o meu conhecimento sobre a conservação das aves marinhas, mas também integrar uma rede mais ampla de pessoas comprometidas com o mesmo objetivo: preservar o delicado equilíbrio entre biodiversidade e presença humana. Estou verdadeiramente grata por fazer parte desta missão.

Tentilhão da Madeira (Fringilla maderensis)


(English version)

Starting My Journey with SPEA

My name is Valeria, I come from Sardinia, and I’m currently in Madeira as part of the Eurodyssey programme. My academic background in Natural Sciences and international field experiences in biodiversity, agroecology, environmental education and nature conservation brought me here with a strong desire to contribute to seabird conservation on the island.

My participation in this project is rooted in a desire to combine scientific knowledge, communication, and hands-on action to protect seabird colonies and the fragile ecosystems they represent. At SPEA Madeira, I contribute to the European project LIFE Natura@night, which focuses on studying and safeguarding seabird colonies in the Natura 2000 network across the archipelago. These colonies, especially those of Cory’s Shearwater, are affected by multiple pressures such as light pollution, human disturbance, and invasive species.

My work involves supporting field surveys to characterize breeding sites, participating in monitoring and rescue campaigns during the fledging season, and collaborating in environmental education and outreach. These actions are part of a broader effort to understand how human activity impacts seabird behavior and survival, and to promote coexistence through better-informed local practices.

As someone who grew up on an island, I feel a deep connection to the challenges faced by insular ecosystems. I have developed a strong sensitivity to the environmental challenges that insular territories face: habitat fragmentation, pressure from tourism, invasive species, and the intensifying effects of climate change. These pressures often affect species that nest in silence, in hidden cliffs or inaccessible islets, birds whose survival depends on our ability to observe, understand, and act respectfully.

I believe that conservation must be both local and collective. It’s about listening to nature, collaborating across cultures, and transforming awareness into care. Being here with SPEA allows me not only to deepen my knowledge about seabird conservation, but also to become part of a wider network of people working for the same goal: preserving the delicate balance between biodiversity and human presence. I’m truly grateful to be part of this mission.