segunda-feira, 18 de julho de 2016



Monitorização do Fura-bardos.

A Monitorização do Fura-bardos consiste na recolha de toda a informação possível da espécie, seguida de uma análise dos dados com o objetivo de conhecer a distribuição e abundância da população na ilha da Madeira. A observação contínua dum organismo no seu habitat constitui um método essencial para ampliar o conhecimento de uma espécie. A vigilância e a recompilação de dados sobre o Fura-bardos, vão permitir obter informação de aspectos comportamentais. 
O estudo de monitorização da espécie é dividido em quatro períodos que coincidem com as fases de reprodução (acasalamento, incubação, alimentação das crias e dispersão dos juvenis; Newton 1986). Actualmente, encontramo-nos nas fases de alimentação das crias e dispersão dos juvenis. Para o seguimento destes períodos require-se um trabalho de campo muito intenso; tentando encontrar pontos estratégicos de vigilância, os mais próximos possíveis ao ninho, para observar as interacções de comportamento entre os indivíduos, sempre minimizando o efeito do observador para não perturbar a sua conduta natural.

Nestas duas fases, o comportamento que quer-se observar é ver como o macho depena as presas nas proximidades do ninho (na área de alimentação), para lhe dar a presa a fêmea, quem é a encarregada de leva-a ao ninho e alimentar as crias. Pretende-se também ouvir as vocalizações dos juvenis, os quais já realizam voos curtos nas proximidades do ninho. 

6 horas frente o ninho.

Este ano 2016, o dia 16 de julho, foi a primeira vez que se fiz um seguimento durante 6 horas num território. Quando se trabalha com animais silvestres é impossível garantir que vais conseguir vê-los. Mas hoje vou-lhes contar como é essa experiencia, ou pelo menos de como tem sido para mim. Pois recentemente tenho tido a oportunidade de observar uma especie de ave com um comportamento muito esquivo.

“Quase eram às 9:00h de amanha quando mostraram-me o território situado em pendente e direção nordeste. A mancha está constituída por espécies de vegetação exótica que foi plantada. No subsolo tinha grande quantidade de matéria orgânica seca como folhas e ramas. De primeiro observei o ninho com os binóculos, mas não detectei movimento nenhum, assim que dirigi-me até a área de alimentação, donde encontrei desplomadouros de várias espécies; melro e pintassilgo de certeza. Enquanto estava a recolher as penas, levantei a cabeça e apareceu um individuo adulto de fura-bardos (provavelmente o macho) aproximando-se. Foi tudo tao rápido que fique paralisada, até nervosa, o coração bateu forte uns segundos. Só pensei disfruta do momento, porque entre que procuras os binóculos e tentas enfocar, já tens perdido semelhante espetáculo. Chegou perto, mas só detectar minha presença, deu meia volta e fosse embora em direção ao ninho. E eu fiquei em silêncio, com as penas ainda na mão, vendo como desaparecia entre os troncos. Não acreditava! Que casualidade, só chegar e vê-lo! Pensei que se tentava esconder-me por ali, se calhar voltava e via como despenava a presa. Isso já seria espetacular. Esperei pouco mais de 2 horas, mas nada. 
Então decidi visitar de novo o ninho. Coloquei-me numa parte alta e camuflada desde onde conseguia ver perfeitamente o ninho e também a área de alimentação. De facto intuía-se um corredor ótimo entre as árvores que conectava os dois pontos.
Quando olhei para cima, apareceram de uma em uma três cabecinhas com penugem branca, mas já tinham penas formadas. As três estavam quase imóveis, observavam a sua volta como se estivessem a espera e alguma delas piava. Passou uma hora aproximadamente até que ouvi vocalizar um individuo adulto e instantes depois chegou a fêmea pela parte superior do ninho, mas desapareceu rapidamente porque o macho estava a vocalizar desde a área de alimentação. Até esse momento nunca tinha ouvido, nem sabia como era o som de um fura-bardos, mas era tão claro que não tinha confusão nenhuma.
Voltei a ouvir vocalizações de longe desde a área de alimentação e cada vez mais perto. Seguidamente, a fêmea passou em frente de mim com um voo elegantíssimo e silencioso usando o corredor. Transportava uma presa que deixou no ninho. Só foi visível uma das crias enquanto estava a comer. Após a ingesta as crias estavam consideravelmente mais ativas. Mexiam as asas e até conseguiam voar distâncias cortas até ramas próximas ao ninho.”

“Enquanto estava sozinha na floresta tive muito tempo para pensar. Alguém me disse uma vez que se ficas quieto na floresta o tempo suficiente, vais ver indícios da força da vida, e se não acreditas observa com atenção, e se ainda não, com mais atenção usando os sentidos como instrumentos essenciais. As vezes é preciso fazer mais estreito o foco por onde normalmente olhamos, assim as coisas convertem-se mais nítidas, como através de um pequeno buraco. Essa é a paradoxa da existência contemplativa, fazemos menos e mais lento para ver mais. Só quando vemos outras espécies no planeta, é quando nos conhecemos melhor a nós mesmos. Parece que não tomamo-nos o tempo para parar e observar este mundo que habita a nosso redor, arriba y abaixo, com suas propiás historias e dramas. Não podemos perceber uma beleza tão gigante se não somos capazes de por atenção.”



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Sparrowhawk Monitoring.

The Sparrowhawk monitoring is to gather all possible information of the specie, followed by a data analysis in order to understand the distribution and abundance of the population on the island of Madeira. The continued observation of an organism in its habitat is an essential method to increase knowledge of the specie. Surveillance and data recompilation of Sparrowhawk, will allow obtaining information from behavioral aspects. The monitoring study is divided into four periods that coincide with the reproduction phases (mating, incubation, feeding the chicks and dispersion of juveniles; Newton 1986). Currently, we are in feeding and dispersal of juveniles. To follow up these periods require is a very intense field work; trying to find strategic points of surveillance, the closest possible to the nest to observe the behavior of interactions between individuals, but always minimizing the effect of the observer and trying not to disturb their natural behavior.




 In tthese two phases, the behavior we want to watch is to see how the male pluck the prey near the nest (in the feeding area ), to give the prey to the female, who is in charge to takes it to the nest and feed the young. It also intends to hear the juveniles vocalizations, which already perform short flights near the nest.


6 hours in front the nest.

This year 2016, July 16th, was the first time we did a follow-up for 6 hours in a territory. When you work with wild animals it is impossible to guarantee you'll see them. But today I will tell how this experience is, or at least as it has been for me, because I have recently had the opportunity to observe a bird with a very elusive behavior.

"They were almost at 9 : 00 a.m. when they showed me the territory situated in a pending faced to the northeast. The vegetation stain is made up of exotic species that was planted. In the basement there were big loads of organic dry matter such as leaves and branches. First noticed the nest with binoculars, but didn't detect any movement, so I headed to the feeding area, where I found desplomadouros of various species; blackbird and goldfinch for sure. While I was collecting the feathers, I lifted my head and appeared a sparrowhawk adult (probably male) approaching. It all happened so fast that I became paralyzed, even nervous, my heart pounded hard a few seconds. I just thought “enjoy the moment, because while looking for the binoculars and try to focus, you will already lose such a spectacle”. It came close, but only detects my presence, turned and flies away toward the nest. I stayed there in silent, with the feathers still in my hand, watching as it disappeared between the logs. I didn’t believe! What a coincidence, just arrived and see it! I thought that if I tried to hide over there, maybe it returned and I could see how plucked the prey. That would be amazing. I waited little more than 2 hours, but nothing. 
So I decided to visit again the nest. I choose an elevated, cloaked zone, from where I could see perfectly the nest and also the feeding area.
In fact, a great corridor could be intuited between the trees that connected the two points. When I looked up, appeared one by one three little heads with white fuzz, but had already formed feathers. The three were almost motionless, watching around as if they were waiting and some of them chirped. It spends an hour or so until I heard vocalizing an adult individual and moments later came the female at the top of the nest, but disappeared quickly because the male was vocalizing from the feeding area. Until then I had never heard or knew what it was like the sound of a sparrowhawk, but it was so clear that had no confusion at all. 
Then, I started to hear vocalizations away from the feeding area and closer every time. Then, the female passed in front of me with a very elegant and quiet flight using the corridor. He carried a prey and left it in the nest. Only a chick was visible while eating. After ingestion they were considerably more active. Shuffled the wings and could fly up short distances until branches near the nest."


“I had much time to think while I was alone in the forest. Someone once told me that if you stay quiet in the woods long enough, you will see evidence of the life force, and if you don’t believe observes carefully, and if still not, more carefully, using the senses as essential tools. Sometimes you have to make narrower the focus where normally look, so things are converted sharper, as through a small hole. This is the paradox of the contemplative life, we do less and slower to see more. Only when we observe other species on the planet, it is when we know us better ourselves. It seems that we can’t stop and watch this world that lives around us, above and below, with their own stories and dramas. We can’t realize of this giant beauty if we are not able to pay attention. "

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