quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

A contar cantos


Quantas vezes nos acontece estar no meio da natureza e, apesar de não ver nada, sabemos que não estamos sozinhos? Não estou falando de nada espiritual ou extraordinário, refiro-me à habilidade dos animais de perceber e identificar outros animais através do som característico que produzem. Essa capacidade de distinguir, por exemplo, os cantos das aves é frequentemente usada para localizar e estudar suas populações através de censos acústicos.

Exemplos de metodologias utilizadas nestes censos por escutas:
  1. Estações de escuta.
    Dividiu a área a ser estudada em quadrículas (em geral de UTM 10-10km), o que se pretende é que a pessoa faça um período de escuta e observação dum determinado tempo em diferentes pontos de cada quadrícula. Deve registar se cada espécie o número total de indivíduos diferentes, detetados por via auditiva ou visual, em cada banda de distância.
  1. Transectos e chamamentos (playback).
    Este tipo de amostragem consiste na reprodução da canção duma ave durante um período de tempo, deixando o reprodutor a uma distância do observador e ficando atento aos espécimes que respondem aos chamamentos ou/e canções dos machos. A localização dos indivíduos detetados fica assim registrada no GPS.
  1. Amostragem acústica.Com um equipamento de audição amplificado e gravadoras fico em pontos previamente identificados, trata-se de gravar todos os cantos ao mesmo tempo que tomamos nota do que ouvimos ao vivo. Estas gravações nos fornecem dum registro permanente do censo que podem ser usadas depois para analisar a composição das espécies e a abundância relativa das comunidades de aves. Além disso têm outras vantagens como os problemas logísticos que podem surgir no campo ou minimizar os erros dos observadores mais inexperientes (entre os quais eu me incluo).
As vezes a gravação de sons é freqüentemente usada juntamente com a técnica de reprodução para atrair aves para o observador, de forma que possam ser identificados visualmente, ou também para atraí-los para armadilhas para sua captura.

Como você sabem por outros artigos, agora mesmo a terceira metodologia é a que usamos no SPEA-Madeira em nossos censos de aves marinhas. Da minha parte, depois de três meses e meio na Madeira percebi que, apesar da minha capacidade surpreendentemente limitada de memorizar e distinguir os cantos das aves, com muitos censos e revisão de gravações, consegui distinguir as de algumas das aves marinhas endémicas da ilha. Aqui deixo uma pequena amostra de, em minha opinião, os mais chamativos e que podem ser ouvidos nesta época do ano perto da costa.

                                                     Cagarra       Patagarro     Pintainho


Para terminar ... Alguns dados curiosos sobre os cantos das aves e sua evolução:

  • Geralmente se reconhecem dois grandes grupos de aves, as “não passeriformes” (aqueles que não constituem o grupo de aves canoras, que incluem patos, galináceas, papagaios, pombos ...) e as “passeriformes” (aves canoras no sentido estrito).
  • Os chamamentos são usados por adultos e juvenis em qualquer época do ano. Enquanto aos cantos, geralmente são produzidas pelos machos durante a época de reprodução para atrair ao casal e defender seu território.
  • Há aves que têm um maior repertório de cantos do que outros, isso parece estar relacionado com à defesa de seu território e à atracão das fêmeas. Verificou-se que aqueles com mais variedade têm mais testosterona, ocupam um território maior e são capazes de defender mais recursos para alimentar aos filhos. Além disso, seus descendentes têm maior sobrevivência do que aqueles com cantos menos variados.
  • Demonstrou-se que em algumas espécies, existem em os cantos certa variação geográfica, o que são conhecidos como "dialetos". Isto quer dizer que indivíduos da mesma população têm cantos diferentes de acordo com as áreas onde vivem e que servem como critérios de selecção para as fêmeas. No caso do diamante-mandarim (Taeniopygia guttata) , por exemplo, as fêmeas comparam seu dialecto com o do pretendente de tal forma que, se for semelhante, eles o rejeitam. Isso ajuda a evitar a endogamia, por isso são um indicador do isolamento genético. Estas são mais propensas a se formar novas espécies no longo.




                                
Foto de I fucking love science.


How often do we find ourselves in the middle of nature?and despite we see nothing, we know we are not alone? I am not talking about anything spiritual or extraordinary, I am referring to the ability of animals to perceive and identify other animals through the characteristic sound they produce. This ability to identify, for example, bird songs is often used to localize and study their populations through acoustic methods.
Examples of methodologies are:
  1. Listening stations.
    The area to study is divided in grids (usually UTM 10-10km), what is intended is that the person makes a period of listening and observing in different points of each grid. The total number of different individuals for each species that have been detected visually or aurally, should be recorded.
  2. Transects and calls (playback).
    This type of sampling consists of the reproduction of bird songs and calls during a period of time, leaving the player at a distance from the observer and paying attention to the specimens that respond to the calls and / or songs of the males. The location of detected individuals may be recorded in the GPS.

  3. Acoustic sampling.
    With an amplified hearing and recording equipment fixed in previously identified points, the goal it's recording all the bird sounds at the same time that we take note of what we hear live. These recordings provide us of permanent census records that can be used to analyze species composition and the relative abundance of bird communities. In addition they have other advantages like sort out logistical problems that can arise in the field or to minimize the errors of the most inexperienced observers (here I include myself).
    Sometimes sound recording is often used in conjunction with the call technique to attract birds to the viewer so that they can be visually identified or to capture them in the mist nets.

As you know from other articles, right now the third methodology is the one we use at SPEA-Madeira in our seabird censuses. For my part, after three and a half months in Madeira, I realized that, despite my surprisingly limited ability to memorize and distinguish bird songs, after many censuses and review of recordings, I managed to identify some of the island's endemic seabirds. Here I leave a small sample of, in my opinion, the most startling ones that can be heard at this time of year near the coast.


               Cory'sshearwater                  Audubon'sShearwater                   ManxShearwater

To conclude ... Some curious notes about the birdsongs and their evolution:

  • In general, two large groups of birds are recognized, the non-passeriformes (those that do not constitute the group of singing birds which includes ducks, gallinaceae, parrots, pigeons ...) and passeriformes (singing birds in the strict sense).
  • Calls are used by adults and juveniles at any time of the year. While songs are usually produced by males during the breeding season to attract the couple and defend their territory.
  • There are birds that have a greater repertoire of songs than others, this seems to be related to the defense of their territory and the attractiveness of the females. It has been found that those with more variety of songs have more testosterone, they occupy a larger territory and are able to defend more resources to feed their chicks. In addition, their offspring have more survival options than those with less varied repertoire.
  • It has been shown that in some species, there are certain geographical variations in the birdsongs, which are known as "dialects". This means that individuals of the same population have different songs according to the areas where they live and that serve to females as selection criteria. In the case of the mandarin diamond (Taeniopygia guttata), for example, the females compare their own dialect with that of the pretender in such a way that, if is similar, they reject him. This helps prevent inbreeding, so they are an indicator of genetic isolation. These are more prone to forming new species in the future.

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