As aves marinhas caracterizam-se
por terem uma grade longevidade, são predadores de topo e necessitam de águas
produtivas para garantir a sua subsistência e reprodução. Este grupo depende
diretamente do estado dos ecossistemas marinhos e costeiros. Devido à crescente
pressão do homem sobre os recursos marinhos, á pesca comercial, à poluição, à
predação por espécies invasoras e ao esquecimento global, as aves marinhas são
consideradas o grupo mais ameaçado de todas as aves a nível mundial.
Juvenil de Patagarro. |
O Arquipélago da Madeira reveste-se de
particular importância para as aves marinhas. Espécies como o garajau ou a
gaivota distribuem-se por todas as ilhas do Arquipélago em colónias de pequena
dimensão. Na ilha da Madeira nidifica a única colónia mundial de
freira-da-madeira, espécie classificada como "Em Perigo" e já
considerada extinta no passado, até ser redescoberta em finais da década de
1960. A maior colónia de patagarro de Portugal e da Macaronésia localiza-se
também nesta ilha, estando estimada em algumas centenas de casais.
Na ilha do Porto Santo e ilhéus adjacentes existem
pequenas populações de cagarra, roque-de-castro, alma-negra e pintainho.
Ilhéu de Bugio |
Os Arquipélagos
das Desertas e Selvagens, ilhas desabitadas, classificadas como Reservas
Naturais pelos seus valores de fauna e flora, reúnem as maiores colónias de
aves marinhas. Nas Desertas nidifica
a endémica freira-do-bugio, que
estudos moleculares e morfológicos recentes indicaram ser uma espécie distinta
da que ocorre em Cabo Verde, aumentando assim, devido à reduzida população, o
seu grau de ameaça. Ainda nidifica a maior população de alma-negra de todo o Atlântico, e importantes populações europeias de
cagarra, pintainho e roque-de-castro.
AMEAÇAS HISTÓRICAS
Colonia de Cagarras perto da beira da ilha da Madeira. |
A chegada do homem ao arquipélago da Madeira levaram ao colapso das populações
das aves marinhas desta ilha. A destruição do habitat, através de fogos de modo
a conquistar áreas para permitir a habitação e a agricultura foram o início de
um massacre sem precedentes da avifauna terrestre e marinha.
A conquista destes novos locais também trouxe consigo animais estranhos
àqueles ambientes. Foram introduzidos intencionalmente herbívoros como cabras,
coelhos, ovelhas e vacas; e outros animais domésticos como porcos, gatos, cães
e furões. Alem, outras foram trazidos acidentalmente, como os ratos e as
lagartixas. Esta nova comunidade de mamíferos introduzidos teve um impacto
enorme nas populações de aves, consumindo ovos, juvenis e adultos, destruindo
ninhos e causando a erosão dos solos onde as aves instalavam os ninhos,
contribuindo para a extinção de várias aves marinhas.
A perseguição direta para consumo de carne e para obtenção de óleo e de
penas terão também dado um grande contributo para o desaparecimento de colónias
inteiras de aves marinhas. A caça concentrou-se sobretudo nas cagarras, as presas mais rentáveis
existentes em ilhas e ilhéus mais afastados. Estas foram vítimas de capturas
legais até ao último quartel do século XX, e ainda há caça ilegal desta
espécie.
Porto Santo de noite. |
Mais atualmente a
poluição luminosa também é uma causa
de mortalidade para as aves que nidificam em ilhas, sobretudo os juvenis,
devido ao fato de as aves se desorientarem e virem colidir com estruturas ou
poisar em zonas mais fortemente iluminadas.
Por último, a perturbação
dos locais de reprodução como dunas, salinas os pequenos ilhéus pode ter
elevados impactos levando ao abandono dos mesmos pelos indivíduos reprodutores.
As aves marinhas
passam a maior parte da sua vida no mar pelo que é fundamental conhecer o
impacto das principais ameaças para as aves. A captura acessória em artes de
pesca, a interação com estruturas de produção de energia em meio marinho e o
impacto do lixo, sobretudo plásticos, são algumas das áreas prioritárias nas
que tem se de ser trabalhado para tentar minimizar seus impactos.
As Áreas IBA são umas áreas sensíveis para
a avifauna designadas pela BirdLife International, que a sua vez, foram uma
importante referencia para designar as Zonas de Proteção Especial. O
arquipélago da Madeira conta com dois IBA marinhas.
IBAs marinhos em Portugal. |
Os critérios
utilizados para a identificação de IBAs faz referência a valores para proteger
e melhorar o estatuto de conservação das aves. Os tipos de IBA Marinha
classificam-se:
a) Extensões costeiras de colónias de
reprodução
b) Áreas de
concentração costeira fora do período reprodutor
c) Áreas de concentração pelágicas
d) Corredores
migratórios
Freira de Madeira. |
É de destacar a
criação de reservas naturais das Ilhas Salvagens (1971), das Ilhas Desertas
(1990) e das Berlengas (1981) foram decisivos para a proteção das principais
colonias de aves marinhas em Portugal, assim como a implementação de
legislação.
O trabalho
realizado por distintas instituições como Serviço do Parque Natural de Madeira
o SPEA ter sido decisivo, desenvolvendo projetos e ações de conservação. São de
destacar:
1.
Os trabalhos com a freira-da-madeira, evitando uma quase segura extinção desta ave
marinha endémica, num período em que a população desta espécie estava estimada
em pouco mais de 20 casais.
2.
A
erradicação dos ratos domésticos e dos coelhos
3.
A
erradicação de ratos, coelhos e cabras na ilha de Bugio e seu controlo na
Deserta grande.
4.
Erradicação
e o controle de mamíferos e de plantas introduzidas nos pequenos ilhéus do
Porto Santo.
5.
Campanha
Salve um ave marinha
6.
Censos
de mar
7.
Monotorização
das populações de aves marinhas
Assegurar a
conservação de aves marinhas de uma forma eficaz requer maiores esforços, como
o cumprimento da legislação, a criação de regulamentação e normas. Ao longo das
últimas décadas, têm sido criados vários acordos internacionais relevantes para
a conservação da biodiversidade marinha. O desafio agora é aproveitar este
compromisso e garantir que ações concretas de conservação sejam tomadas a nível
local, regional e nacional, através de um conhecimento mais aprofundado da
ecologia destas espécies, bem como da sua relação com as atividades humanas.