sábado, 21 de agosto de 2021

Ameaças às aves marinhas 🎣🐱💡 | Caça ilegal de cagarra 🚫

Quais são as principais ameaças às aves marinhas? 🎣🐱💡

Sabia que continua a haver caça ilegal de cagarra? 🚫


Como resultado dos seus hábitos noturnos em terra e orientação pelos padrões estrelares, as aves marinhas possuem olhos adaptados à visão noturna. Estas características, que lhes fornecem uma vantagem adaptativa, tornam-nas também mais sensíveis à luz. Como resultado, as luzes das cidades encadeiam as aves marinhas, desorientando-as. Os juvenis quando saem dos ninhos, por serem pouco experientes, são atraídos pela luz artificial e ficam desorientados, caindo entre as cidades e por vezes colidindo com edifícios, carros ou postes de luz.

A SPEA Madeira, através da Campanha Salve Uma Ave Marinha, procura minimizar os impactes da luz noturna artificial nas aves marinhas, sensibilizando a população para a redução da luz e para o resgate das aves encandeadas.  Saiba mais sobre a campanha no facebook da SPEA Madeira ou no grupo Aves Marinhas da Macaronésia, e veja no calendário quais são as épocas críticas de quedas de aves marinhas, que coincidem com a saída do ninho dos juvenis destas 8 espécies de aves marinhas, da ordem Procellariiformes, existentes no Arquipélago da Madeira.

Calendário das datas das saídas dos juvenis dos ninhos.

Para além da poluição luminosa, as aves marinhas sofrem com outras ameaças:

A captura acidental de aves marinhas acontece quando estas ficam presas nas artes de pesca. Este é um problema de conservação a nível global que provoca, apenas em águas europeias, a morte de cerca de 200.000 aves por ano. Na Madeira, apenas é permitida a pesca em Palangre, dedicada ao peixe-espada.

As aves marinhas não conseguem adaptar os seus ritmos biológicos às alterações da temperatura dos oceanos. Com as alterações climáticas, cada vez é mais difícil para estas aves encontrar alimento para as suas crias.

A poluição é uma das maiores ameaças, chegando anualmente 8 milhões de toneladas de plástico ao oceano. Os efeitos são muito negativos para toda a vida selvagem e para os ecossistemas marinhos, com um milhão de aves marinhas a morrer, todos os anos, devido à poluição por plástico.

Sozinhas ou em bando, milhares de aves voam todos os anos para a Madeira. Aqui passam o período mais importante das suas vidas, o da reprodução. O ambiente insular é o destino perfeito para a nidificação, mas com a chegada do Homem e a introdução de novas espécies, o equilíbrio natural sofreu alterações e as colónias ficaram expostas a novos perigos. Encontrar um local seguro e abrigado para fazer ninho, é por isso uma tarefa levada muito a sério: dela depende a sobrevivência dos ovos e dos filhotes recém-nascidos, presas indefesas de predadores como o rato, o murganho, a cabra ou o gato silvestre. Os ninhos normalmente localizados em cavidades naturais ou em buracos escavados no solo são, muitas vezes, ameaçados por plantas exóticas invasoras.

Principais ameaças às aves marinhas.

A cagarra (Calonectris borealis) é a ave marinha mais abundante que nidifica em Portugal e a maior das pardelas da Europa. É facilmente identificável pelo seu voo: longos deslizes sobre a superfície da água. Esta ave é extremamente ágil no mar, mas muito desajeitada em terra. Esta visita à costa da ilha da Madeira na época de reprodução de fevereiro a novembro. Esta espécie, segundo o IUCN, apresenta um estatuto de conservação Pouco Preocupante (LC) na Região Autónoma da Madeira. Esta espécie apresenta um comprimento de 45 a 56 cm e um peso que ronda entre 700 a 950 gramas.

A cagarra faz o ninho em cavidades naturais, como fendas nas rochas ou sob amontoados de pedras, ou podem ser escavados no solo. Põem apenas um ovo, e ambos os progenitores cuidam da cria, fazendo muitas vezes longas viagens pelo mar, em busca de alimento. Apesar de viverem mais de 30 anos, o facto de porem apenas um ovo e de levarem tanto tempo a atingir a idade reprodutora faz com que a espécie seja muito vulnerável a ameaças como a predação por espécies invasoras, as capturas acidentais na pesca, a perda de habitat, a poluição luminosa e, na Madeira, mesmo nos dias de hoje, ainda sofrem de caça ilegal.

Cagarra adulta no ninho.

Antigamente, em 1964, a caça da cagarra na região era muito recorrente, devido à falta de alimento, esta era muito procurada pela população em geral durante os meses de setembro a outubro de cada ano, ou seja, no fim da época de reprodução (quando os juvenis apresentam mais gordura armazenada) eram organizadas várias expedições às ilhas Selvagens com o intuito de capturar o maior número possível de juvenis. A última expedição ocorreu a 15 de setembro de 1967 quando Paul Zino proibiu a caça à cagarra. Em 1976, devido a uma revolução da população, durante um período de mudança de regime político em Portugal (1974/75) as populações de cagarra que nidificavam nas ilhas Selvagens, maioritariamente a Selvagem Grande, foram, de novo, alvo de chacina, dizimando quase toda a população existente. Desde então a colónia tem tido uma recuperação lenta e graças à introdução de leis e controlo por parte de vigilância permanente esta apresenta uma população que está estimada em 29 540 casais (Granadeiro et al. 2006).

A SPEA, durante as suas ações de monitorização de duas colónias distintas, encontrou vestígios da prática ilegal de caça de cagarras. Três ganchos foram encontrados junto de ninhos outrora ocupados.

A SPEA tem vindo a realizar diversas atividades de sensibilização ambiental relativamente às aves marinhas e suas ameaças, tendo alguns populares mencionado, por diversas vezes, que tinham conhecimento da apanha ilegal e consumo de cagarra atualmente, quer na Madeira, quer no Porto Santo, principalmente pela comunidade piscatória. Esta ave é retirada do seu ninho utilizando ganchos, para posterior consumo da carne.

À semelhança do controlo e proteção destas aves marinhas, que ocorre nas Selvagens, é imperativo que haja mais fiscalização nas colónias e sensibilização à população para o término desta atividade ilegal na Madeira e Porto Santo.

Ganchos encontrados em colónias de cagarra para a prática ilegal de caça.

sábado, 7 de agosto de 2021

Instalação de GPS-loggers em cagarras

As aves marinhas são o grupo de aves mais ameaçado do mundo. No entanto, devido à sua ecologia móvel e dispersa, a sua distribuição e comportamento no mar ainda
é pouco conhecida. É no mar onde passam a maior parte da sua vida, vindo a terra somente para a reprodução.

A nossa equipa SPEA Madeira tem feito trabalhos de campo no âmbito do projeto INTERREG MAC Energy Efficiency Laboratories (EELabs), desde a montagem de fotómetros na zona sul da ilha à instalação de GPS-loggers em cagarras, com o objetivo de mitigar os efeitos nocivos da luz noturna artificial nas aves marinhas.

O que são os GPS-loggers? Diferindo de outros aparelhos de telemetria (radio e satélite), os GPS-loggers não transmitem informação permanentemente ou a um determinado intervalo, mas armazenam informação, sendo que têm de ser recolhidos para fazer download da informação.

Os GPS-loggers que utilizamos são pequenos aparelhos com cerca de 20mg, que estão programados para determinar a localização da ave. Apesar de terem bastante capacidade para recolher dados, a sua bateria apenas dura cerca de uma semana, sendo que, semanalmente a equipa tem de procurar as aves onde instalou os GPS-loggers para remover o dispositivo e extrair os dados.

O processo de instalar os loggers requer uma monitorização inicial de ninhos. Pretende-se encontrar o casal de cagarras que tem uma cria para cuidar, sendo que assim farão diversas viagens entre a costa e o mar, de modo a poder alimentá-la. Ou seja, estão constantemente a regressar ao ninho, permitindo-nos recolher o logger e não perder o dispositivo nem os dados. Este é um processo moroso porque quanto mais as crias crescem, menos vezes os pais as vêm alimentar, e é maior a probabilidade de não nos cruzarmos com eles para instalar ou recolher loggers. Assim sendo, devemos fazer várias rondas pela colónia, durante a noite, de forma a encontrar adultos reprodutores, o que é um verdadeiro desafio!

Encontrámos mais de 30 ninhos potenciais, no entanto apenas 10 estão a ser utilizados e já têm cria. As primeiras nasceram no fim de julho! Assim sendo, há 20 cagarras adultas a alimentar a sua descendência, e são essas 20 que estamos a procurar para instalar os loggers e saber o percurso que fazem pela costa da Madeira.

Os dispositivos são instalados no dorso da ave utilizando fita de tecido e supercola. São reunidas algumas penas, é colocado o logger e envolve-se com a fita, de modo a não estorvar a ave nem se perca o dispositivo. Também é retirado o peso da ave. A anilhagem e recolha dos restantes dados biométricos são feitos sempre que encontramos adultos distintos. Quando as crias forem grandes o suficiente também serão anilhadas!


Por vezes também encontramos alguns adultos jovens inexperientes que já procuram um local para nidificar, e andam a inspecionar a zona.



As cagarras são filopátricas, ou seja, retornam ao local onde nasceram para se reproduzir. Se as crias destes ninhos que encontrámos forem bem-sucedidas, daqui a 7 anos voltarão à mesma colónia para pôr ovo!