sábado, 7 de agosto de 2021

Instalação de GPS-loggers em cagarras

As aves marinhas são o grupo de aves mais ameaçado do mundo. No entanto, devido à sua ecologia móvel e dispersa, a sua distribuição e comportamento no mar ainda
é pouco conhecida. É no mar onde passam a maior parte da sua vida, vindo a terra somente para a reprodução.

A nossa equipa SPEA Madeira tem feito trabalhos de campo no âmbito do projeto INTERREG MAC Energy Efficiency Laboratories (EELabs), desde a montagem de fotómetros na zona sul da ilha à instalação de GPS-loggers em cagarras, com o objetivo de mitigar os efeitos nocivos da luz noturna artificial nas aves marinhas.

O que são os GPS-loggers? Diferindo de outros aparelhos de telemetria (radio e satélite), os GPS-loggers não transmitem informação permanentemente ou a um determinado intervalo, mas armazenam informação, sendo que têm de ser recolhidos para fazer download da informação.

Os GPS-loggers que utilizamos são pequenos aparelhos com cerca de 20mg, que estão programados para determinar a localização da ave. Apesar de terem bastante capacidade para recolher dados, a sua bateria apenas dura cerca de uma semana, sendo que, semanalmente a equipa tem de procurar as aves onde instalou os GPS-loggers para remover o dispositivo e extrair os dados.

O processo de instalar os loggers requer uma monitorização inicial de ninhos. Pretende-se encontrar o casal de cagarras que tem uma cria para cuidar, sendo que assim farão diversas viagens entre a costa e o mar, de modo a poder alimentá-la. Ou seja, estão constantemente a regressar ao ninho, permitindo-nos recolher o logger e não perder o dispositivo nem os dados. Este é um processo moroso porque quanto mais as crias crescem, menos vezes os pais as vêm alimentar, e é maior a probabilidade de não nos cruzarmos com eles para instalar ou recolher loggers. Assim sendo, devemos fazer várias rondas pela colónia, durante a noite, de forma a encontrar adultos reprodutores, o que é um verdadeiro desafio!

Encontrámos mais de 30 ninhos potenciais, no entanto apenas 10 estão a ser utilizados e já têm cria. As primeiras nasceram no fim de julho! Assim sendo, há 20 cagarras adultas a alimentar a sua descendência, e são essas 20 que estamos a procurar para instalar os loggers e saber o percurso que fazem pela costa da Madeira.

Os dispositivos são instalados no dorso da ave utilizando fita de tecido e supercola. São reunidas algumas penas, é colocado o logger e envolve-se com a fita, de modo a não estorvar a ave nem se perca o dispositivo. Também é retirado o peso da ave. A anilhagem e recolha dos restantes dados biométricos são feitos sempre que encontramos adultos distintos. Quando as crias forem grandes o suficiente também serão anilhadas!


Por vezes também encontramos alguns adultos jovens inexperientes que já procuram um local para nidificar, e andam a inspecionar a zona.



As cagarras são filopátricas, ou seja, retornam ao local onde nasceram para se reproduzir. Se as crias destes ninhos que encontrámos forem bem-sucedidas, daqui a 7 anos voltarão à mesma colónia para pôr ovo!

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