quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

"Vamos deixar os abutres serem abutres"


Alguém já ouviu falar sobre o efeito que determinados medicamentos para gado têm sobre as aves necrófagas? 

Para algumas pessoas este assunto soará familiar, mas para aqueles que não estão familiarizados com este problema, irei evidenciar as perigosas consequências que o medicamento Vet diclofenac tem no ecossistema e que, claro, nós acabaremos pagando.

Vet diclofenac é um medicamento comercializado pela empresa italiana FATRO, que utilizou lacunas nas diretrizes de avaliação de risco da UE para medicamentos veterinários para obter a sua aprovação em Itália e Espanha, apesar de haverem evidências do seu impacto nos abutres e noutros animais selvagens.
Os abutres ajudam a limpar a natureza, eliminando toneladas de carcaças de gado do campo. Eles têm um metabolismo preparado para consumir alimentos que outras espécies não conseguem e que poderiam ser uma fonte de infeção para muitos outros animais e mesmo para os humanos. Ajudam, além disso, a economizar o dinheiro necessário para retirar e eliminar os animais mortos do campo. Exemplo do desastre que pode causar é o que aconteceu na Índia, onde entre 1992 e 2007, as populações de três espécies asiáticas (Gyps bengalensis, Gyps indicus, Gyps tenuirostris) diminuiram entre 97,5% a 99,9%, com custo de cerca 24.500 milhões de euros. Finalmente, em 2006, o Vet diclofenac foi proibido e substituído por o meloxicam , não tóxico para as aves.

A Europa, e sobretudo Espanha é a região com populações mais saudáveis de abutres e ,juntamente com Portugal, possuem 95% da população de abutres da União Europeia. Já foi visto que existem medicamentos com eficácia similar e custo semelhante, que poderiam substituir este medicamento perigoso.
Portanto, aparentemente, não há motivo para o uso contínuo deste fármaco, e é por isso que  SEO/BirdLife, Spea, Vulture Conservation Foundation, WWF España y BirdLife Europe reagiaram e lançaram a campanha internacional “Ban Vet Diclofenac” para evitar a administração contínua deste medicamento veterinário, nos três países da UE, nos quais contam com a presença de abutres.

Para obter mais informações, siga o seguinte link (http://www.banvetdiclofenac.com/pt/proibir-o-diclofenac/) e espalhe a palavra. É claro que eu já assinei e, neste deste blog,  espero dar a conhecer um pouco mais desta problemática e incentivá-lo a agir também.


                         MUITO OBRIGADA!                    Aegypius monachus.jpg

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Has anyone ever heard about the effect that certain veterinary drugs have on necrophagous birds?

For some people this issue will sound familiar but for those unfamiliar with this problem I will highlight some dangerous consequences that the medicine Vet diclofenac has on the ecosystem and that of course we will end up paying.

Vet diclofenac is a medicine marketed by the Italian company FATRO, which used loopholes in the EU's risk assessment guidelines for veterinary medicines to obtain its approval in Italy and Spain, although there is evidence of its impact on vultures and other wildlife.
Vultures help clean nature eliminating tons of cattle carcasses from the field. They have a metabolism prepared to consume food that other species can not and that could be a source of infection for many other animals and even humans. They also help save the money needed to remove and eliminate dead animals from the field. An example of the disaster that can be caused is what happened in India, where between 1992 and 2007, populations of three Asian vultures species (Gyps bengalensis, Gyps indicus, Gyps tenuirostris) decreased from 97.5% to 99.9%, with a cost of around 24,500 million euros. Finally, in 2006, Vet diclofenac was banned and replaced with meloxicam, non-toxic to birds.

Europe, and above all Spain, is the region with the healthiest populations of vultures and, together with Portugal, they represent 95% of the European Union vulture population. It has already been seen that there are drugs with similar efficacy and similar cost that could replace this dangerous drug.
Therefore, apparently there is no reason for the continuous use of this drug, and that is why SEO / BirdLife, Spea, Vulture Conservation Foundation, WWF España and BirdLife Europe have reacted and launched the international campaign "Ban Vet Diclofenac" to avoid the continuous administration of this veterinary medicinal product in all three EU countries where vultures are present.

For more information, please follow the following link (http://www.banvetdiclofenac.com/prohibit-the-diclofenac/) and spread the word about this. Of course I have already signed and in this blog, I hope to raise awareness of this problem and encourage you to take action as well.



              THANK YOU VERY MUCH!                    Aegypius monachus.jpg

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

O que é o Projeto Arenaria?

Desde o 1 de dezembro e até 31 de janeiro de 2018 ocorre a época de campo do Projeto Arenaria, Spea apela as pessoas a participar como voluntários para colaborar neste projeto. Portanto no artigo desta semana gostaria de explicar um pouco sobre o que este projeto consiste e porque o acho uma oportunidade interessante para aprender um pouco mais sobre as diferentes espécies de aves que podemos observar nas praias da Madeira nesta altura.

Primeiro de tudo... O que é o Projeto Arenaria? Conforme descrito no website do projeto (https://sites.google.com/site/projectoarenaria/), este “é um projeto de citizen science com o objetivo de estudar a distribuição e abundância de aves presentes ao longo da linha de costa, bem como monitorizar a sua evolução temporal. Os dados recolhidos permitiram obter estimativas de abundância e distribuição das aves limícolas, bem como informação acerca da distribuição de outras espécies de aves costeiras”. Também a metodologia está muito bem explicada no website, que em resumo consiste em façer contagens das aves que observamos na zona entre-marés escolhendo uma quadrícula UTM 5x5 km , com ajuda da coordenação regional do projeto, neste caso SPEA Madeira. O principal grupo alvo são as aves limícolas, mas também contabilizamos outras espécies como gaivotas, garças, garajaus... assim como as perturbações que acontecem durante o censo de: pessoas, cães sem trela e veículos.
Tendo em conta a realidade das regiões autónomas dos Açores e da Madeira, nomeadamente a dispersão territorial, as características topográficas das ilhas (com muitas áreas inacessíveis) e o reduzido número de observadores, entre outros, haverá uma adaptação da metodologia às ilhas, nomeadamente no que à selecção das áreas de contagem diz respeito. É por isso que é necessária ajuda dos voluntários para assegurar nossos objetivos a monitorização anual das quadrículas estudadas e sensibilizar o público para a conservação dos ecossistemas marinhos e sua biodiversidade.

Na tabela a seguir, deixo um resumo das espécies que podemos encontrar em nossas praias, destacando-se em azul, o mais facilmente observável.


O que vemos e o que contamos na Madeira?


LIMÍCOLAS
GAIVOTAS
Rola-do-mar (Arenaria interpres)
Gaivota-de-patas-amarelas (Larus michahellis)
Borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula)
Guincho (Larus ridibundus) 
Borrelho-de-coleira-interrompida(Charadrius alexandrinus)
Gaivota-d'asa-escura (Larus fuscus)
Pilrito-das-praias (Calidris alba)
Gaivota-tridáctila (Rissa tridactyla)
Pilrito-de-peito-preto  (Calidris alpina)
Gaivota-de-cabeça-preta (Larus melanocephalus) 
Maçarico-das-rochas (Actitis hypoleucos)
Gaivota-de-bico-riscado  (Larus delawarensis)
Maçarico-galego (Numenius phaeopus)

Seixoeira  (Calidris canutus)

Perna-verde  (Tringa nebularia)

Perna-vermelha (Tringa totanus)

Tarambola-cinzenta (Pluvialis squatarola)


GARÇAS
GARAJAUS
Garça-branca-pequena (Egretta garzetta)
Garajau-de-bico-preto (Sterna sandvicensis)
Garça real (Ardea cinerea)


OUTRAS 

Alcatrazes (Morus bassanus), Alcaide (Catharacta skua), Corvos-marinhos (Phalacrocorax sp), Pato-real (Anas platyrhynchos)    


Rola-do-marPilrito-das-praiasMaçarico-das-rochas
        Rola-do-mar                                    Pilrito-das-praias                       Maçarico-das-rochas



Borrelho-grande-de-coleiraBorrelho-de-coleira-interrompidaMaçarico-galego
    Borrelho-grande-de-coleira         Borrelho-de-coleira-interrompida       Maçarico-galego



GuinchoGaivota-de-patas-amarelasGarajau-de-bico-preto
      Guincho                                      Gaivota-de-patas-amarelas               Garajau-de-bico-preto



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From December 1st to January 31st, 2018, it's field season of Arenaria Project, Spea appeals to people to participate as volunteers in this project. So in this week's article I would like to explain a little about what this project consists of and why I find it an interesting opportunity to learn a more about the different species of birds that we can observe on the beaches of Madeira at this time.

First of all ... What is the Arenaria Project? As it is described on the project website (https://sites.google.com/site/arenaria/), this "is a citizen science project with the goal of studying the distribution and abundance of birds present along the coastline, as well as monitor their temporal evolution. The data collected allowed estimates of abundance and distribution of shorebirds as well as information on the distribution of other species of coastal birds. " Also the methodology is very well explained in the website, which in summary consists of counting the birds that we observe in the zone between tides by choosing a UTM grid 5x5 km, with the help of the regional coordination of the project, in this case SPEA Madeira. The main target group are shorebirds, but we also count other species such as seagulls, herons, terns ... as well as the disturbances that occur during the census: people, dogs without leash and vehicles.
Beacouse the situation of the Azores and Madeira regions, such as territorial dispersion, special topographic characteristics of the islands (with many inaccessible areas) and a small number of observers, among others, the methodology it is adapted to the islands, which the selection of counting areas is concerned. That is why it is necessary the help of volunteers to ensure our objectives; the annual monitoring of the study areas and to raise public awareness of the conservation of marine ecosystems and their biodiversity.


In the table below, I leave a summary of the species that we can find on our beaches, standing out in blue the most easily observable.


What do we see and what do we count? 



SHOREBIRDS
GULLS
Ruddy Turnstone (Arenaria interpres)
Yellow-legged Gull (Larus michahellis)
Common Ringed Plover (Charadrius hiaticula)
Black-headed Gull (Larus ridibundus) 
Kentish Plover(Charadrius alexandrinus)
Lesser Black-backed Gull (Larus fuscus)
Sanderling (Calidris alba)
Black-legged Kittiwake (Rissa tridactyla)
Dunlin (Calidris alpina)
Mediterranean Gull (Larus melanocephalus) 
Common Sandpiper (Actitis hypoleucos)
Ring-billed Gull  (Larus delawarensis)
Whimbrel (Numenius phaeopus)

Red Knot  (Calidris canutus)

Common greenshank  (Tringa nebularia)

Common redshank (Tringa totanus)

Grey plover (Pluvialis squatarola)


HERONS
STERNS
Little Egret (Egretta garzetta)
Sandwich Tern (Sterna sandvicensis)
Grey Heron(Ardea cinerea)


OUTRAS 

Northern Gannet (Morus bassanus), Great Skua (Catharacta skua),  Phalacrocorax spMallard (Anas platyrhynchos)    



Rola-do-marPilrito-das-praiasMaçarico-das-rochas
        Ruddy Turnstone                                    Dunlin                       Common Sandpiper



Borrelho-grande-de-coleiraBorrelho-de-coleira-interrompidaMaçarico-galego
            Kentish Plove                            Common Ringed Plover                    Whimbrel


GuinchoGaivota-de-patas-amarelasGarajau-de-bico-preto
              Black-headed Gull                    Yellow-legged Gull                          Sandwich Tern

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Life in plastic it's not as fantastic...

Depois dum mês na Madeira, consegui ficar admirada e surpresa com sua natureza e os muitos lugares mágicos desta ilha. Mas essas mesmas paisagens que atraem a atenção de visitantes de todo o mundo, muitas vezes são degradados e sua beleza eclipsada pela enorme quantidade de lixo deixado pelas mesmas pessoas de maneira acidental ou intencional. Então, hoje quero falar sobre isso precisamente, sobre o lixo, e mais especificamente sobre o plástico e o efeito que deixa no mar e sua biodiversidade.

O 80% da poluição marinha tem origem terrestre. No total, estima-se que anualmente morrem cerca de 1 milhão e quinhentos mil animais vertebrados devido à ingestão de plástico. Escovas de dentes, rolhas de garrafas, isqueiros, ou resíduos da pesca são alguns dos objectos frequentemente vistos no estômago das aves encontradas mortas, mas... Como esses objectos chegam lá? depois de arrastados pelas chuvas, rios e sistemas de esgotos acabam no mar, onde ventos e correntes oceânicas os espalham por todo o oceano com graves consequências na biodiversidade e em todo o Ambiente. 
Alem disso, soube-se que o plástico nunca se parte, apenas se degrada em fragmentos mais pequenos que permanecem no ambiente. Conforme a sua densidade, podem ser encontrados na coluna de água, aumentando o número de espécies que entram em contacto com ele. Estes fragmentos microscópicos podem durar séculos, libertam substâncias tóxicas, misturam-se com o plâncton, e quando são confundidos com alimento causam obstruções no aparelho digestivo da várias espécies, matando-os ou ferindo-os. Acabam assim infiltrados em toda a cadeia alimentar oceânica, que mais tarde irá contaminar alimentos humanos. Também, há estudos que relacionam os problemas causados por poluentes orgânicos persistentes em aves marinhas com a diminuição do sucesso reprodutivo e declínio de populações destes animais
Outro exemplo muito estudado é o do Albatroz-de-Layssan (Phoebastriaimmutabilis) no Atol de Midway, em o Pacífico Norte. Normalmente estas aves alimentam-se de crustáceos, lulas, e pequenos peixes perto da superfície, sendo assim atraídos por estes pequenos objectos de plástico colorido, confundidos com alimento. Eles podem viajar centenas de quilómetros para encontrar alimento para a suas crias, ás que acabam assim com o estômago cheio de plástico, com o trato digestivo obstruído, até que acabam por morrer à fome.

Resultado de imagem para aves marinhas com lixo


No nosso caso, na Madeira, existem diferentes caixotes que facilitam a separação entre os tipos de lixo, de modo que o vidro, papel e plástico são transportados ao continente e tratados em instalações de reciclagem. No entanto, muitas pessoas ainda não estão conscientes da importância de acções tão simples como separar ou não lançar lixo ao chão,e o resultado é visualmente perceptível em muitas praias e ribeiras. Contra esta falta de conhecimento, há campanhas para limpar praias e até para a angariação de tampas de garrafas, para troca por uma cadeira de rodas. 
Por outro lado, depois duma pequena pesquisa na Internet, descobri a existência do projecto “GoJelly” em que o Observatório Oceânico da Madeira participa. O objectivo principal deste projecto é desenvolver, testar e promover uma solução gelatinosa que processada através de matéria prima proveniente de alforraras (muitas delas, espécies invasoras e autênticas pragas), o que pode servir de filtro à poluição de microplásticos.

Claramente projectos como este podem fazer uma grande ajuda para a invasão do plástico nos nossos mares e oceanos, mas como eu disse em outros artigos, pessoalmente acho que é melhor prevenir do que remediar e, como residente temporária da ilha , quero incentivar as pessoas e a mim incluída, para estar mais atentos ao efeito que todos os plásticos que nos cercam podem exercer no meio ambiente.






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After a month in Madeira, I was amazed and surprised by its nature and the many magical places of this island. But these same landscapes that attract the attention of visitors from all over the world are often degraded and their beauty eclipsed by the huge amount of garbage left by this same people in an accidental or intentional way. So today I want to write about it precisely, about the garbage, and more specifically about the plastic garbage and the effect it makes on the sea and its biodiversity.

80% of the marine pollution has terrestrial origin. In total, it is estimated that about 1.5 million vertebrate animals die each year because the ingestion of plastic. Toothbrushes, bottle stoppers, lighters, or fishing wastes are some of the objects often seen inside the stomachs of seabirds found dead, but ... How do these objects get there? after being washed away by rains, rivers and sewage systems. they end up in the sea, where winds and ocean currents scatter them all over the ocean with serious consequences on biodiversity and the environment.
In addition, it has been learned that plastic never breaks, only degrades into smaller fragments that remain in the environment. According to their density, they can be found in the water column, increasing the number of species that come into contact with it. These microscopic fragments can stay for centuries, releasing toxic substances, mixing with plankton, and when they are confused with food they cause obstructions in the digestive tract of various species of animals, killing or injuring them. In this way, they end up infiltrating the entire oceanic food chain, which will later contaminate human food. Also, there are studies that relate the problems caused by persistent organic pollutants in seabirds with the decrease of the reproductive success and the decline of populations of these animals
Another well-studied example is the Layssan Albatross (Phoebastriaimmutabilis) in the Midway Atoll in the North Pacific. Usually these birds feed with crustaceans, squids, and small fish near the surface, so they used to be attracted by these small colored plastic objects, confused with food. They can travel hundreds of miles to find food for their offspring, which then end up with a plastic-filled stomach with a clogged digestive tract until they starve to death.

Resultado de imagem para aves marinhas com lixo


In our case, in Madeira, there are different trash bins that facilitate the separation of types of waste, so that glass, paper and plastic are transported to the mainland and treated in recycling centers. However, many people are still not aware of the importance of some actions as simple as separating or not or even throwing garbage to the ground, but the result is visually noticeable on many beaches and streams of the island. Against this lack of knowledge, there are campaigns to clean beaches and even for the collection of bottle caps to exchange them for a wheelchair.
On the other hand, after a little research on Internet, I discovered the existence of the "GoJelly" project, in which Madeira Ocean Observatory participates. The main objective of this project is to develop, test and promote a gelatinous solution that is processed through jellyfish (many of them invasive species and authentic pests), which can serve as a filter for microplastic pollution.

Clearly projects like this can be a big help for the invasion of plastic in our seas and oceans, but as I said in other articles, personally I think it is better to be safe than sorry and, as a temporary resident of the island, I want to encourage people and myself, to be more attentive to the effect that all the plastics that surround us can exert on the environment.