terça-feira, 1 de agosto de 2023

As aparências as vezes enganam

Quando viajo para outros países com interesse naturalista, gosto de documentar as espécies que vivem nesses lugares, principalmente aqueles com os quais tenho maior afinidade, como meso e macrocarnívoros, ungulados ou répteis. Como a maioria das ilhas de origem vulcânica que se encontram afastadas do continente, a meso e a macrofauna não costuma estar presente, dada a barreira ecológica que os oceanos representam. As ilhas da Macaronésia não são exceção, pois toda a mesofauna que encontramos na ilha da Madeira e que não pertence ao grande grupo das aves, foi introduzida pela mão do Homem. No entanto, esperava que, na própria ilha, com a grande variedade de microclimas que existem (dois, segundo a classificação de Koppen), fosse possível encontrar uma grande variedade de espécies de répteis terrestres que teriam vindo a colonizar as ilhas de rocha vulcânica. A minha grande surpresa foi quando soube que existia apenas uma espécie de lagarto endémico na Madeira (Teira dugesii dugesii e Teira dugesii selvagens). Esta espécie, no entanto, possui uma grande variedade fenotípica e pode apresentar diferentes tipos de coloração dorsal e ventral, bem como acentuado dimorfismo sexual (ver foto 1). Nos primeiros dias na ilha, se não tivesse um conhecimento prévio da herpetofauna da zona, pode-se interpretar erroneamente que a variedade de espécies de sáurios é muito elevada quando na realidade se trata de uma única espécie com uma grande variedade fenotípica que colonizou toda a ilha e tem uma densidade populacional muito alta. Por isso, gostaria de alertar todos os apaixonados pela natureza que viajam com fins naturalistas, que se dediquem a um curto período de documentação prévia antes de viajar, porque a natureza acaba sempre por surpreender.

Fotografia 1: Fotografa de uma Teira dugesii dugesii macho feita por Adrià Bellmunt Ribas no Jardim Municipal do Funchal.


Desenho 1: Desenho que mostra a variabilidade da coloração ventral nos lagartos madeirenses (Teira dugesii), com os valores de frequência com que aparece em jovens (Jov), machos e fêmeas, segundo Marcos Báez (1990). O desenho da barriga e dos quartos traseiros de Teira dugesii é de Pierre-Louis Oudart (1836).

When I travel to other countries with a naturalist interest, I like to document myself about the species that live in that place. Especially those for which I have a greater affinity, such as meso and macrocarnivores, ungulates or reptiles. Like most islands of volcanic origin that are far from the mainland, meso- and macro-fauna are not usually present there given the ecological barrier that oceans represent. The islands of Macaronesia are no exception, because all the mesofauna that we find on the island of Madeira and that do not belong to the large group of birds, have been introduced by the hand of man. However, I expected that on the island itself, with the great variety of microclimates that exist there (2 according to Koppen's classification), I would find that there would be a great variety of species of terrestrial reptiles that would have come to colonize the volcanic islands. My big surprise was when I learned that there was only one species of endemic lizard (Lacerta dugesii dugesii and Lacerta dugesii salvagens). This species, however, has a great phenotypic variety and can present different types of dorsal and ventral coloring as well as marked sexual dimorphism (see photo 1). During the first days on the island if one does not have prior knowledge about the herpetofauna of the area, one may mistakenly interpret that the variety of saurian species is very high when it is a single species with a large variety phenotypic that has absolutely colonized the entire island and has a very high population density. So, I would like to warn all those passionate about nature who travel for naturist purposes, to dedicate themselves to a short period of prior documentation before traveling because nature always ends up surprising.

Photography 3: Photograph of a male Teira dugesii dugesii taken by Anna Cortés Bullich at the Pico dos Barcelos viewpoint in Funchal.


 Drawing 1: Drawing showing the variability of ventral coloration in Madeiran lizards (Teira dugesii), with the frequency values with which it appears in juveniles (Jov), males and females, according to Marcos Báez (1990). The drawing of the belly and hindquarters of Teira dugesii is by Pierre-Louis Oudart (1836).


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