quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Luzes Guia? ✨💡

                                                                  - Portuguese Version -


                                            

Nas últimas semanas, tenho trabalhado numa base de dados com artigos sobre a poluição luminosa e os seus efeitos nas aves marinhas. Neste blog, gostaria de partilhar algumas coisas que achei interessantes.
Neste período, os juvenis das diversas espécies de aves marinhas da Madeira saem da sua toca para iniciarem as suas aventuras em mar aberto. As crias são motivadas a sair da toca porque os pais as abandonaram e precisam de se sustentar agora, sem qualquer ajuda ou orientação dos pais, caso contrário morrerão de fome. Impulsionado por esta motivação e instinto, o cria sai da toca pela primeira vez. Encontrar o mar rapidamente é muito importante para as crias, pois estar fora da toca em terra torna-as mais vulneráveis ​​aos predadores. O passo seguinte é encontrar um ponto de onde a ave possa levantar voo para o primeiro voo. Por vezes têm de caminhar/oscilar para encontrar um bom lugar ou usam o bico e as pernas para subir até um ponto mais alto. Agora, podem finalmente experimentar as suas asas e obter comida.



Num mundo perfeito, as aves marinhas seriam capazes de encontrar o caminho para o oceano com relativa facilidade. Hoje em dia, a história é diferente, pois as aves marinhas podem facilmente distrair-se com os elevados níveis de luzes artificiais provenientes das cidades, da iluminação pública, etc. , por exemplo, e colidir com infraestruturas. A desorientação pode também provocar a morte por exaustão, uma vez que a ave se perde da rota inicial e continua a circular em torno da mesma fonte de luz. Portanto, a luz artificial é um grande problema para as aves marinhas aqui na Madeira e em todo o mundo. Mas porque é que exatamente as aves marinhas reagem à luz artificial à noite (ALAN)? As seguintes razões podem dar alguma explicação:


Uma das razões pelas quais as aves marinhas são atraídas pela luz artificial é porque associam a luz a uma fonte de alimento. Muitas aves marinhas comem marisco com propriedades bioluminescentes. Um pássaro experiente pode ser melhor a distinguir as suas presas bioluminescentes de uma fonte de luz artificial, mas as crias são inexperientes e não há ninguém para as ensinar, pelo que é mais provável que fiquem confusas.

A segunda explicação está também relacionada com a alimentação. Antes de sair da toca, tudo o que o cria viu foi basicamente nada, pois cresceu num buraco escuro (mas isto também depende da profundidade e de outras características da toca, pois umas são mais escuras que outras). Mas provavelmente havia alguma luz a entrar na toca pela entrada e foi também aí que os seus pais puderam entrar para dar comida à cria. Assim, pode ser que os pintos associem a luz à obtenção de alimento, pois o alimento provinha sempre da entrada mais clara da toca. Ou simplesmente sentem muita falta dos pais.


Por último, as luzes artificiais bloqueiam as luzes ambientais provenientes da lua e das estrelas, que as aves utilizam naturalmente para a navegação. Estudos descobriram que em noites escuras, mais aves emplumam do que em noites de lua cheia. Isto porque na noite de lua cheia, a intensidade das luzes artificiais é menor em relação à luz proveniente da lua, pelo que o efeito de atração da lua é mais forte em comparação com outras noites em que a luz provém predominantemente de fontes de luz artificial .

                                                            
                                                                - English Version -

                                        

The past few weeks, I have been working on a database with articles about light pollution and the effect on  seabirds. In this blog, I would like to share some things that I found interesting. 

This period, the juveniles from the various seabird species of Madeira are leaving their burrow to start their adventures in the open ocean. The fledglings are motivated to go out of their burrow because their parents have left them and they have to provide for themselves now, without any help or guidance form the parents, otherwise they will starve. Driven by this motivation and instinct, the fledgling goes out of the burrow for the first time. Finding the sea quickly is very important for the fledglings,  as being out of their burrow on land makes them more vulnerable for predators. The next step is to find a point from where the bird can take off for the first flight. They sometimes have to walk/wobble to find a good spot or they will use their beak and legs to climb to a higher point. Now, they can finally try out their wings and get some food. 

In a perfect world, the seabirds would be able to find their way to the ocean with relative ease. Nowadays, it's a different story, as seabirds can easily get distracted by the high levels of artificial lights coming from cities and streetlights etc. They might fly in the wrong direction, towards a city instead of the coast for example, and get crashed with infrastructures or they might get grounded on a road and get hit by a car. The disorientation might also cause death from exhaustion as the bird gets lost from the initial route and keeps circling around the same source of light. So artificial light is a major problem for the seabirds here on Madeira and all over the world. But why exactly do seabirds react to artificial light at night (ALAN)? The following reasons might give some explanation:

One of the reasons why seabirds are attracted by artificial light is because they associate the light with a source of food. Many seabirds eat seafood with bioluminescent properties. An experienced bird might be better at telling apart their bioluminescent prey from an artificial light source, but young fledglings are inexperienced and there is no-one to teach them so they are more likely to get confused. 

The second explanation is also related to food. Before going out of the burrow, all the chick has ever seen was basically nothing, as they grew up in a dark hole (but this also depends on the depth and other characteristics of the burrow, as some are darker than others). But there was likely some light coming into the burrow form the entrance and this was also were their parents can in to give the chick food. Thus, it could be that chicks associate light with getting food, as the food was always coming from the lighter burrow entrance. Or they just really miss their parents. 

    

Lastly, artificial lights block out ambient lights coming form the moon and stars, which the birds naturally use for navigation. Studies have found that on dark nights, more birds get fledged than on nights with a full(er) moon. This is because on full moon night, the intensity of artificial lights is less relative to the light coming from the moon so the pulling effect of the moon is stronger compared to other nights where the light is predominantly coming form artificial light sources. 

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

DESSERTAS🗾

Hoy vengo a hablar nuevamente de este subarchipielago...


...del cual podria hacer un post en este blog todos los dias pero tengo que darle espacio a otros temas y aumentar la riqueza en cuanto a variedad, por lo tanto, este sera el ultimo post sobre las islas Dessertas...(mentira)

Aparte de la ya mencionada antes gran variedad de aves que habita la isla, se encuentran otros misteriosos personajes que solo se encuentran aqui como puede ser la Tarântula da Deserta (Hogna ingens), que se encuentra exclusivamente en un valle en el norte de Deserta Grande.


Y tambien tenemos a la timida y, aunque no endemica pero aun asi residente, foca monje (Monachus monachus) que podemos encontrar en las distintas cuevas marinas que se encuentran a lo largo de las tres islas, y la cual se encuentra bajo un plan de conservacion de dicha especie debido a la baja población y el peligro constante que suponemos los humanos...


Hoje venho falar novamente sobre este sub-arquipélago....


...do qual poderia fazer um post neste blogue todos os dias mas tenho que dar espaço a outros temas e aumentar a riqueza em termos de variedade, por isso, este será o último post sobre as ilhas Dessertas...(mentira)

Para além da já referida grande variedade de aves que habitam a ilha, existem outras personagens misteriosas que só aqui se encontram, como é o caso da Tarântula da Deserta (Hogna ingens), que se encontra exclusivamente num vale a norte da Deserta Grande.

E ainda a tímida foca-monge (Monachus monachus), não endémica mas residente, que pode ser encontrada nas várias grutas marinhas das três ilhas, e que está sob um plano de conservação da espécie devido à baixa população e ao perigo constante que nós, humanos, representamos...

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Os nossos pequenos grandes heróis…💂


Uma das minhas tarefas enquanto estagiária da SPEA, é fazer o trabalho de sensibilização em escolas.

Ao longo destes sete meses, já tive a oportunidade de estar em contacto com crianças e adolescentes de várias idades, desde o pré-escolar, até ao secundário.

No que toca ao pré-escolar, o nosso plano de educação ambiental aborda a temática da poluição luminosa, porém com uma linguagem adaptada às crianças de idades compreendidas entre os 3 e os 5 anos.

A “Hora do Conto” – a atividade dinamizada- conta a história de uma ave bebé (a cagarra), que ao longo do tempo vai ganhado independência e autonomia, até ao dia em que sente confiante para bater as suas asas e levantar voo, fazer o seu rumo e seguir para uma longa viagem ao encontro dos seus pais. No entanto, não é assim tão fácil como parece, pois encontra alguns desafios pelo caminho….

O objetivo deste conto, é que os mais pequenos comecem deste já a perceber uma das ameaças que o nosso ecossistema enfrenta, mas que a sociedade não está tão familiarizada, que é a poluição luminosa. Através desta elucidação, ajudamos os mais pequeninos a entender alguns dos obstáculos que as aves marinhas encontram para chegar ao seu destino, nomeadamente o excesso de luz artificial, que as torna mais suscetíveis a embater em edifícios, postes, caírem nas ruas das cidades, podendo até virem a ser atropeladas ou vítimas de predadores.


© Elisa Teixeira

© Elisa Teixeira



© CMSC

 

Após a parte teórica, temos a oportunidade de fazer um jogo prático “Heróis por um dia”, que estimula as crianças a agirem para salvar uma ave marinha, numa atividade que consiste em esconder aves de peluche, que porventura perderam o sentido de orientação devido à poluição luminosa, mas que agora as crianças, com uma caixa de cartão, têm a hipótese de salvá-las!

Os mais pequenos chegam assim ao fim da atividade, felizes e contentes por terem cumprido com a missão de Salvar uma Ave Marinha.

Particularmente, também me sinto realizada por poder contribuir de alguma forma com este trabalho de sensibilização, nomeadamente dinamizar a Hora do Conto, pois tem sido uma experiência enriquecedora poder estar perto de crianças, saber como ganhar a sua confiança e aprender com as suas dúvidas e curiosidades.


*english version*

Our little great heroes...💂

One of my tasks as an SPEA intern is to raise awareness about light pollution in schools. 

Over the course of the last seven months, I've already had the opportunity to be in contact with children and teenagers of various ages, from pre-school to secondary school. 

As far as pre-schoolers are concerned, our environmental education activities address the issue of light pollution, but with a language adapted to children aged between 3 and 5.

In the “Story Time” activity, we tell the story of a baby bird that over time gains independence and autonomy. The day comes that he feels confident enough to flap his wings and take off, set his course and head off on a long journey to meet his parents. However, it's not as easy as it seems, as they encounter some challenges along the way....

The aim of telling this story is help make one of the threats facing our ecosystem, light pollution, understandable for even the littlest ones by explaining the problem in a simple and playful way. Light pollution is an issue that is relatively unknown to many people and we want to help kids to understand the obstacles seabirds encounter in their journey to the sea, namely the excessive lights that make fledglings more susceptible to crashing into buildings, lampposts, falling into city streets and even being run over or falling victim to predators.


© Elisa Teixeira

© Elisa Teixeira


© CMSC


After the story, we play the more practical game “Heroes for a day”, which encourages the children to take action to save a seabird. The activity consists of hiding stuffed birds that may have lost their sense of direction due to light pollution. But in this case, the children have the chance to save with a cardboard box! 

The little ones ultimately reach the end of the activity, happy and content to have accomplished their mission of Saving a Seabird.

In particular, I also feel fulfilled for being able to contribute in some way to this awareness-raising work by organizing Story Time. It has been an enriching experience to be able to work close to children, to know how to gain their trust and to learn from their doubts and curiosities.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Campanha das freiras 🆘

(castellano)

Respecto a la campaña de rescate de las freiras...

...hemos estado trabajando estas dos ultimas semanas de manera poco habitual, y con esto me refiero a que el trabajo a sido en horario nocturno, alrededor de las diez de la noche. Esto ha sido necesario debido a que es el momento mas adecuado para encontrar a un juvenil ejemplar de esta especie que se haya extraviado en su salida del nido.


No hemos tenido "suerte" en nuestra zona (Cãmara do Lobos) en encontrar ejemplares, lo que en realidad es un resultado relativamente positivo puesto que demuestra que no se han confundido con la contaminación lumínica y han podido cumplir su mision biologica sin problema. Pero como he mencionado, es relativo, tambien puede significar que el incendio que recientemente ha arrasado gran parte del macizo central de la isla, tamabien haya mermado la población de esta especie tan delicada. Ahora mismo solo se pueden sacar conclusiones estimativas.

(portugués)

A propósito da campanha de salvamento das freiras....

...temos estado a trabalhar nestas duas últimas semanas de uma forma pouco habitual, e com isto quero dizer que o trabalho tem sido feito à noite, por volta das dez horas da noite. Isto foi necessário porque é a altura mais adequada para encontrar um juvenil desta espécie que se tenha desviado do ninho.


 Na nossa zona (Cãmara do Lobos) não tivemos “sorte” em encontrar exemplares, o que até é um resultado relativamente positivo, pois mostra que não foram confundidos pela poluição luminosa e conseguiram cumprir a sua missão biológica sem qualquer problema. Mas, como já referi, isto é relativo, podendo também significar que o incêndio que recentemente devastou grande parte do maciço central da ilha tenha também reduzido a população desta delicada espécie. De momento, só podemos fazer estimativas.

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Voluntariano na Campanha freiras

*Portuguese version*

 Voluntariando em uma campanha de aves marinhas

©Ainara Germán

A SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves) existe a campanha Pterodromas4Future na Madeira, focada na conservação do freira-do-bugio, uma espécie em perigo de extinção. Esta iniciativa busca voluntários apaixonados pela natureza para participar em atividades de monitorização, proteção de habitats e sensibilização da comunidade local.

Como voluntária, tive o prazer de fazer parte da campanha noturna, focada na conservação da espécie em relação aos primeiros voos dos novos indivíduos. Estes, devido à poluição luminosa, ficam desorientados e muitas vezes não conseguem chegar ao mar. Os voluntários dividem-se em 3 equipas de duas pessoas e, durante aproximadamente uma semana e meia, fizemos transectos de 30-40 minutos. Estivemos em Câmara de Lobos, Porto da Cruz e Faial. Embora não tenhamos encontrado nenhuma freira (um símbolo positivo, pois nos leva a pensar que não tiveram nenhuma perturbação nos seus primeiros voos), mas recebemos 3 almas-negras (Bulweria bulwerii), que tivemos de anilhar e libertar em locais com pouca poluição luminosa. Pessoalmente, depois de ter anilhado uma cagarra (muito maior do que a alma-negra), anilhar estes pequenos indivíduos foi totalmente simples e divertido.

Participar nesta campanha não só oferece a oportunidade de contribuir para a preservação de uma espécie única, mas também de desfrutar do impressionante ambiente natural da Madeira, aprender sobre a biodiversidade local e fazer parte de uma equipa comprometida com a conservação ambiental.

Fazer um voluntariado oferece múltiplos benefícios tanto para os voluntários quanto para as comunidades que eles servem. A nível pessoal, o voluntariado ajuda a desenvolver novas habilidades, ampliar a rede de contatos e melhorar o bem-estar emocional ao contribuir positivamente para a sociedade. A nível comunitário, os voluntários fornecem apoio vital a projetos que precisam de mãos extras, fortalecendo o tecido social e promovendo o desenvolvimento sustentável.

Junte-se aos voluntariados SPEA e faça parte da mudança!

©Ainara Germán