quarta-feira, 30 de junho de 2021

Áreas protegidas da RAM

 A criação de áreas protegidas, ao contrário do que geralmente se pensa não é apenas uma abordagem conservacionista da natureza, existem valores estéticos, culturais e sociais que devem ser igualmente salvaguardados. Do ponto de vista geral e o objetivo das áreas protegidas passam por:

• Preservação de espécies emblemáticas e/ou endémicas ameaçadas;

• Interdição e controlo das interações antropogénicas nefastas;

• Preservação de habitats;

• Conservação e gestão de Recursos Naturais;

• Controlo das medidas de conservação;

• Conservação da Paisagem e geodiversidade;

• Valor patrimonial e histórico.

As áreas protegidas são representadas por varias tipologias, de seguida serão caracterizadas os tipos de áreas protegidas que podemos encontrar no arquipélago da Madeira:

Reservas Integrais: São áreas de elevado valor ecológico e biofísico, onde as atividades humanas podem comprometer os valores naturais, patrimoniais e culturais. São áreas muito sensíveis e com fraca capacidade de regeneração, pelo que estão sujeitas a proteção absoluta de todos os valores naturais.

Pretendem salvaguardar e conservar a flora, a fauna e respetivos habitats.

Reservas Parciais: Áreas de proteção parcial a proteção é dirigida sobre alguns elementos naturais e as atividades humanas são restritas, de forma a não comprometer os valores naturais existentes.

Reserva Biogenética: Caracteriza-se por ter um ou mais habitats, biocenoses ou ecossistemas com características únicas, raras ou ameaçadas de extinção. Estas áreas gozam de estatuto jurídico reconhecida pelo Conselho da Europa como representativa de habitats europeus.

• Laurissilva da Madeira (1992);

• Ilhas Desertas (1992);

• Ilhas Selvagens.

 

Paisagem protegida: Paisagens naturais que pelas suas características naturais ou culturais possuem um elevado valor estético.

No arquipélago da Madeira foram classificadas a Paisagem Protegida do Cabo Girão (2016) e a Paisagem Protegida da Ponta do Pargo (2018).

Reserva da Biosfera: As Reservas da Biosfera são áreas classificadas, representativas dos principais ecossistemas mundiais, estabelecidas pelos Estados-Membros da UNESCO. São territórios promotores de um desenvolvimento sustentável,

No arquipélago da Madeira existe duas reservas da Biosfera, uma no município de Santana outra na Ilha do Porto Santo.

Reserva Geológica: Áreas com elevado interesse científico geológico de extrema raridade e beleza.

Na ilha da Madeira, existe apenas a Reserva Geológica e de Vegetação de altitude do Maciço Montanhoso Central.

 

Rede Natura 2000: O objetivo da Rede Natura 2000 é garantir a sobrevivência a longo prazo das espécies e habitats mais ameaçados e valiosos da Europa, estende-se por todos os 27 países da União Europeia, e é a maior rede coordenada de áreas protegidas do Mundo.

Os locais são escolhidos pelos Estado-Membros de acordo com os critérios científicos específicos. Na prática esta Rede decorre da junção da Diretivas Aves e Diretivas Habitats. 

A Diretiva Habitats, pretende garantir que os habitats naturais e as espécies presentes nesses habitats sejam mantidas, ou restaurados para um estado de conservação favorável a ocorrência natural.

Nuna fase inicial são designados Sítios de Importância Comunitária (SIC), que posteriormente deverão ser designados como Zonas Especiais de Conservação (ZEC’s). Esta transição pode demorar até 6 anos, e é dada prioridade a locais mais ameaçado e/ou mais importante para a conservação ou restauração.

A Diretiva Aves, pretende garantir a sobrevivência e conservação de espécies de aves vulneráveis ou em perigo. Desta forma os Estados-Membro designam zonas de proteção especial (ZPE).

A comissão europeia determina, com base nas informações fornecidas pelos Estados-membros, se os locais podem formar parte de uma rede coerente para proteção de espécies vulneráveis e migratórias, tornando-se parte integrante da Rede Natura 2000.

SIC – Sítio de Importância Comunitária

Trata-se da fase primária da Rede Natura 2000 precedendo a ZEC. A comissão acompanha anualmente as SIC para garantir que estes sítios consigam obter um estatuto legal e possam integrar a lista de ZEC.

O território da Região Autónoma da Madeira apresenta 8 áreas classificadas como Sítios de Importância Comunitária - SIC incluídos na Rede Natura 2000.Em 2016 Região Autónoma da Madeira aprovou a inclusão do Sítio Cetáceos da Madeira.


ZEC na Madeira


No Arquipélago da Madeira existem 11 ZEC, 7 na ilha da Madeira, 2 na Ilha do

Porto Santo, 1 nas ilhas Desertas e 1 nas Ilhas Selvagens.



ZPE na Madeira


No arquipélago da Madeira existem 5 ZPE, 3 na Ilha da Madeira, 1 nas 
Ilhas Desertas e 1 nas Ilhas Selvagens.



 

Não é a intenção tornar esta publicação muito longa nem exaustiva, pelo que de seguida será apresentada algumas das áreas protegidas do arquipélago e espécies de aves importantes nessas áreas. Não obstante existe ainda uma larga variedade de fauna marinha, vegetação, repteis, invertebrados e uma riqueza geológica incalculável. Uma grande de taxa endémica e subespécies únicas pode ser observada em todas as áreas do arquipélago.

Áreas Protegidas do arquipélago da Madeira:

• Parque Natural da Madeira

• Reserva Natural Parcial do Garajau

• Reserva Natural do Sítio da Rocha do Navio

• Área Protegida do Cabo Girão

• Área Protegida da Ponta do Pargo

• Rede de áreas Marinhas Protegidas do Porto Santo

• Reserva Natural das Ilhas Desertas

• Reserva Natural das Ilhas Selvagens

 

Estas englobam desde áreas exclusivamente terrestres, como o Parque Natural da Madeira, onde os valores naturais coabitam diariamente com a atividade humana e áreas exclusivamente marinhas, como a Reserva Natural Parcial do Garajau e a Reserva Natural da Rocha do Navio.

Estão ainda presentes áreas mistas (terrestres e marinhas), como a Reserva Natural das Ilhas Desertas, a Reserva Natural das Ilhas Selvagens e a Rede de Áreas Marinhas Protegidas do Porto Santo, autênticos santuários da vida selvagem terrestre e marinha, com enorme importância para a preservação de espécies únicas no mundo.

Parque Natural da Madeira

O Parque Natural da Madeira (PNM) abrange todos os concelhos da ilha e ocupa aproximadamente 67% da área da ilha da Madeira.

O PNM inclui reservas totais, reservas parciais, zonas de paisagem protegida e zonas de transição.

Dada a diversidade de áreas integradas pelo PNM, nomeadamente floresta Laurissilva, montanhas e colinas semidesérticas, apresenta uma grande diversidade de habitats naturais.

A diversidade de habitats reflete-se na enorme diversidade de taxa quer de fauna como da flora que são protegidos, incluindo algumas espécies prioritárias e endémicas, aqui em destaque as Aves:

Pombo-trocaz Columba trocaz, Bis-bis Regulus madeirensis, Freira da madeira Pterodroma madeira.

Reserva Natural do Sítio da Rocha do Navio

Localiza-se entre a Ponta do Clérigo a este e a Ponta de São Jorge em Santana e inclui os Ilhéus da Rocha das Vinhas e da Viúva.

É uma área de nidificação de pelágicas como a Cagarra Calonectris borealis, Alma negra Bulweria bulwerii, o Roque de castro Hydrobates castro, o Garajau comum Sterna hirundo e a Gaivota de patas amarelas Larus michaelis.

Áreas Marinhas do Porto Santo

É constituída pela parte terrestre dos seis Ilhéus e pela parte marinha circundante ao Ilhéu da Cal e ao Ilhéu de Cima

Os Ilhéus são locais preferenciais para a nidificação da avifauna marinha incluindo a Cagarra Calonectris borealis, Alma negra Bulweria bulwerii, Roque de castro Hydrobates castro, Pintainho Puffinus lherminieri, Garajau comum Sterna hirundo, Garajau-rosado Sterna dougalli e a Gaivota de patas amarelas Larus michahellis.

Das aves terrestres nidificantes, é de salientar a presença de Corre caminhos Anthus berthelotii madeirensis, de Andorinhão da serra Apus unicolor, do Canário da terra Serinus canaria e do Pardal da terra Petronia petronia madeirensis.

Reserva Natural das Ilhas Desertas

Esta Reserva Natural possui um património biológico excecional sendo uma área de particular importância para a conservação da diversidade biológica na Europa.

Uma das duas populações de Lobos-marinhos Monachus monachus com uma tendência positiva no mundo.

Uma espécie endémica de ave marinha, a Freira do Bugio Pterodroma deserta.

A maior colónia de Almas negras o Bulweria bulwerii no Atlântico.

Uma área de reprodução muito importante para a Cagarra Calonectris borealis, o Roque de castro Hydrobates castro e o Pintaínho Puffinus lherminieri.

Reserva Natural das Ilhas Selvagens

A Reserva Natural das Ilhas Selvagens, criada em 1971, foi a primeira reserva natural de Portugal e uma das primeiras áreas marinhas protegidas da Europa.

Um passariforme terrestre nidifica nas Ilhas Selvagens, o Corre caminhos Anthus bertheloti bertheloti, endémico da Macaronésia.

As Ilhas Selvagens são uma das áreas de reprodução mais importantes para as aves marinhas da Macaronésia e do Atlântico Norte, nidificando as pelágicas Cagarra Calonectris borealis, Calcamar Pelagodroma marina, Alma negra Bulweria bulwerii, Roque de castro Hydrobates castro, Pintaínho Puffinus lherminieri e as costeiras: Garajau comum Sterna hirundo, a Gaivota de patas amarelas Larus michahellis, O Garajau rosado, Sterna dougallii. O Garajau de dorso preto, Onychoprion fuscatus, já foi detetado a nidificar na Selvagem Pequena, mas apenas esporadicamente.

 

A proteção do meio ambiente não se trata apenas de preservar valores naturais, trata-se também de preservar modos de vida em meios rurais, onde é patente o equilíbrio entre a ação do Homem e a natureza.

Existem diversos tipos de áreas protegidas, que oferecem proteção em intensidades e com objetivos específicos distintos, de acordo com a legislação ou ainda em função de acordos internacionais.

Interessa a todos a adoção de medidas legais para a conservação das áreas naturais, a valorização dos recursos naturais proporciona também um crescimento económico através do turismo, atividades lúdico-turísticas e atividades científicas.

De ressaltar ainda, que só com a existência de planos de ordenamentos bem executados é que pode esperar uma correta gestão das áreas protegidas, estes planos devem ser implementados de forma seria e objetiva.


segunda-feira, 21 de junho de 2021

Insetos introduzidos na Madeira: escaravelhos problemáticos

O número total de espécies e subespécies endémicas dos arquipélagos da Madeira e Selvagens é de 1419 taxa (1286 espécies e 182 subespécies), correspondendo a 19% da diversidade total. O Reino Animal é o grupo com maior número de espécies e subespécies endémicas, nomeadamente os moluscos (210) e os artrópodes (979), compreendendo cerca de 84% de todos os endemismos da Madeira e Selvagens. A proporção de endemismo nos moluscos (71%) é notável. As plantas vasculares têm 154 espécies e subespécies endémicas, correspondendo a 13% da diversidade total das plantas. Os restantes grupos taxonómicos apresentam menor número de espécies e subespécies endémicas: 36 fungos (correspondendo a 5% da diversidade total de fungos), 12 líquenes (2%), 11 briófitos (2%) e 15 vertebrados (24%).

A ordem Coleoptera possui o maior número de espécies: cerca de 350 mil! É, portanto, o grupo animal que possui maior diversidade e também apresenta grande variedade morfológica. Uma característica que teria contribuído para o sucesso da ordem seriam os élitros, protegendo o par de asas com função de voo quando este não está em uso, e permitindo que estes animais ocupassem os mais diversos tipos de habitat.

A Ilha da Madeira tem inúmeras espécies introduzidas, sendo muitas delas insetos. Após a checklist da fauna e flora dos arquipélagos da Madeira e Selvagens, de Borges et al., 2008, já foram encontradas na Madeira muitas outras novas espécies, algumas já tendo causado alguns prejuízos a nível das espécies hospedeiras vegetais. Muitos dos escaravelhos introduzidos são das famílias dos curculionídeos e dos cerambicídeos, havendo também ocorrências de alguns buprestídeos, mas ainda sem efeitos conhecidos no ecossistema.


Escaravelho das flores (Oxythyrea funesta)

Família: Cetoniidae

O escaravelho das flores observei pela primeira vez em 2017 no Monte, numa inflorescência de copo-de-leite (Zantedeschia aethiopica). Desde então, tenho notado que está a aumentar a sua distribuição por toda a ilha, alimentando-se de inflorescências de asteráceas, rosáceas e boragináceas, tal como o Echium candicans, e muitas outras. Notei que quando estão em maior número são capazes de estragar completamente as flores, o que pode tornar-se preocupante a longo prazo.

A chegada desta espécie pode não só estar relacionada com as alterações climáticas, particularmente com o aumento das temperaturas, mas também com a importação de flores de corte e plantas envasadas onde estes insetos podem ser transportados, contribuindo para o aumento das populações locais.

Oxythyrea funesta em diversas inflorescências.


Escaravelho-das-palmeiras (Rhynchophorus ferrugineus)

Família: Curculionidae

Esta espécie originária da Ásia foi assinalada pela primeira vez em Portugal na região do Algarve, em finais de agosto de 2007. Afeta principalmente a Palmeira-das-Canárias (Phoenix canariensis) e a Tamareira (Phoenix dactylifera), e em menor grau, espécies do género Washingtonia. O escaravelho das palmeiras surgiu na Madeira e Porto Santo por volta de 2009. Este é dos maiores e mais vistosos insetos que temos na Madeira. No entanto, muitas palmeiras morreram devido às larvas deste escaravelho que se alimentam no interior do tronco, tendo-se realizado combate biológico contra este inseto utilizando armadilhas com feromonas para a captura de adultos, quer para monitorização quer para captura em massa. Deste modo é possível atrair os adultos para o centro dos focos, evitando assim a sua dispersão; monitorizar as populações, permitindo determinar o melhor momento de aplicação dos tratamentos fitossanitários; detetar a sua presença em zonas onde ainda não tenha sido assinalado e realizar a captura massiva como medida de combate. Portanto, em vários jardins da Madeira estão continuamente a ser utilizados os métodos de controle por feromonas, o que permite ainda haver algumas palmeiras na ilha.

Espanha está muito afetada por esta praga, e está a ser investigada uma outra arma biológica que poderá ser utilizada neste combate. Os francelhos/peneireiros-vulgares (Falco tinnunculus) da região estão a alimentar-se quase exclusivamente do escaravelho vermelho. Nesta procura constante de inimigos naturais deste inseto, a esperança parece estar agora ligada ao desenvolvimento de estirpes de fungos entomopatológicos que parasitam os escaravelhos.

Os sintomas apresentados pelas árvores devem-se à atividade alimentar das larvas nos tecidos do hospedeiro, e só podem ser visíveis após três meses até mais de um ano, desde o início da infestação. Apesar de ter destruído imensas palmeiras em Portugal, não se conhecem quaisquer impactos negativos em espécies autóctones ou em ecossistemas naturais, pelo que não pode ser para já considerada invasora.

Esta espécie prefere colonizar palmeiras já enfraquecidas, mas também é capaz de colonizar palmeiras saudáveis. As fêmeas saem das palmeiras já fecundadas, prontas a colonizar novas palmeiras. Podem ter quatro gerações por ano, pondo até centenas de ovos numa só postura.

Ciclo de vida de Rhynchophorus ferrugineus.
 

Gorgulho da Bananeira (Cosmopolites sordidus)

Família: Curculionidade

Este gorgulho é um inseto com impactos económicos referenciados em todo mundo, por causar elevados prejuízos que limitam o desenvolvimento vegetativo da bananeira.

Como este inseto tem atividade noturna e movimenta-se no interior das plantas, torna-se difícil observar a sua presença, podendo passar despercebido pelos produtores e assim atingir elevados níveis de infestação. Os adultos não provocam estragos na planta, sendo as larvas as responsáveis pelos prejuízos, uma vez que, quando se alimentam, abrem com a armadura bocal galerias no rizoma e na parte inferior do pseudocaule da planta. As galerias dificultam os movimentos de água e dos nutrientes, o que leva a um fraco desenvolvimento vegetativo da bananeira. A planta, mais frágil, tem dificuldade em emitir o cacho, que fica malformado e pequeno. O sistema radicular também fica pouco desenvolvido, o que facilita a queda da planta pela ação do vento.

A monitorização da população com armadilhas é indispensável para o controle deste inseto. A movimentação dos insetos é condicionada pela Sordidina, uma feromona de agregação, que é emitida pelos machos para atrair insetos de ambos os sexos para uma fonte de alimento.

 

Ciclo de vida de Cosmopolites sordidus.

Longicórnio-do-pinheiro (Monochamus galloprovincialis)

Família: Cerambycidae

É um escaravelho longicórnio, uma família muito diversa, existindo mais de 100 espécies em Portugal destes escaravelhos que se alimentam de plantas. Na Madeira estão descritas 20 espécies, sendo quase todas introduzidas à exceção de 4!

Os escaravelhos desta família reconhecem-se por terem as antenas muito compridas e compostas por segmentos também muito compridos. Neste caso, trata-se de uma espécie cujas larvas se alimentam da madeira do pinheiro. Infelizmente é também o vetor do nemátodo da madeira do pinheiro (Bursaphelenchus xylophilus), e por isso não muito querido dos produtores florestais. Este nemátodo de apenas 1mm de comprimento é o causador da Doença da Murchidão do Pinheiro. Estes vivem nos canais de resina e no xilema e, uma vez lá dentro, a sua alimentação pode bloquear rapidamente o movimento ascendente de líquidos, levando à morte da árvore.

 

Monochamus galloprovincialis.
Doença da Murchidão do Pinheiro.

Para além destes escaravelhos introduzidos, ocorrem muitas outras espécies de insetos que são prejudiciais para a agricultura na Madeira, tais como moscas, pulgões(afídeos), cochonilhas, e lagartas de lepidópteros tais como a lagarta da borboleta diurna Pieris rapae, e de alguns noctuídeos como Chrysodeixis calcites, Cornutiplusia sp., Autographa sp. e Diaphania sp., e também alguns geometrídeos. Há também algumas pragas de percevejos como o percevejo-do-abacateiro (Pseudacysta perseae) e a mosca-branca. A mosca-da-fruta (Ceratitis capitata) e a mosca-da-couve (Delia radicum) são também muito problemáticas. Podem ocorrer ainda doenças nas culturas causadas por vírus e fungos.

A agricultura e as aves têm uma relação de benefício mútuo. No entanto, os produtos agroquímicos trazem perigos para a saúde pública e perda de biodiversidade, contaminando as águas, os solos e toda a cadeia alimentar. Assim sendo, as aves são consideradas como reguladoras de pragas e de doenças, muito eficazes em campos agrícolas biológicos, sendo imperativo uma luta por uma agricultura compatível, uma agricultura que não comprometa a natureza.

As aves são bons indicadores do equilíbrio do ecossistema. A presença e a conservação de aves e morcegos, é, portanto, uma mais valia para os mais diversos habitats da Ilha da Madeira, sendo que, por serem insectívoros, ajudam no controle de pragas de insetos.


Melro-preto (Turdus merula) e campos agrícolas: uma relação de benefício mútuo.

terça-feira, 15 de junho de 2021

Educação ambiental na SPEA


Na SPEA trabalhamos todos os dias na conservação ativa das aves e dos seus habitats, mas para além disto, são também desenvolvidas diversas atividades e iniciativas de educação e sensibilização ambiental. Estas atividades têm como objetivos informar e divulgar na população em geral informações sobre o património natural presente no arquipélago, especialmente no que respeita às aves por cá existentes. 

 Na última semana tive oportunidade de assistir a uma ação de educação organizada pela SPEA. A vontade de fazer parte desta atividade já é antiga, porém, devido às medidas de contenção da atual pandemia Covid-19 não tinha ainda sido possível. No entanto, com o alívio de algumas medidas e a relativa diminuição de casos ativos na Região e nas escolas pude finalmente participar.

Estas atividades são importantes na divulgação dos projetos de conservação desenvolvidos pela SPEA sobre a avifauna madeirense e os habitats que permanecem no arquipélago.

 A palestra foi dada a duas turmas de 4º ano e o tema abordado nesta palestra foi ‘As aves da Madeira e os seus habitats’. 
 Foi demonstrada a importância do arquipélago da Madeira para a avifauna, a diversidade biológica e os seus endemismos. Como resultado da insularidade, existem quatro espécies de aves endémicas do arquipélago: o Bis-bis Regulus madeirensis, o Pombo-trocaz Columba trocaz, a Freira-do-Bugio Pterodroma deserta e a Freira-da-Madeira Pterodroma madeira, assim como diversas espécies e subespécies endémicas da Macaronésia. 

 Esta atividade teve vários objetivos: 

- Fomentar o contacto dos alunos para a avifauna e a importância do arquipélago em albergar espécies únicas no Mundo;

-Alertar para as boas práticas na atividade de observação de aves; 

 -Promover o interesse e a participação ativa na proteção e conservação da natureza. 

A palestra ocorreu num ambiente divertido em que as crianças participaram fizeram perguntas, algumas inocentes, outras muito engraçadas e com a partilha das suas histórias. Elas são em geral muito curiosas no que diz respeito à Natureza, mostrando muito interesse pelos temas. 

No meu entender estas ações são uma das ferramentas mais importantes que temos para a proteção ambiental. Sensibilizar a população para os problemas que o meio ambiente enfrenta é uma mais-valia no aumento de conhecimento e motivação para trabalhar na procura de soluções para os problemas atuais e evitar que possíveis problemas possam vir a acontecer. 

E é de fato gratificante ouvir as questões que as crianças têm sobre o nosso trabalho e como manifestam a vontade de quererem contribuir para um mundo sustentável. 

Confesso que adorei a experiência e fiquei mais uma vez grato a SPEA por ter-me dado mais esta oportunidade de crescer pessoalmente e profissionalmente. 


Se faz parte de um agrupamento escolar, ou de uma entidade que realiza iniciativas sobre natureza e educação ambiental consulte o nosso programa ambiental em: https://www.spea.pt/o-que-fazemos/educacao-ambiental/atividades-para-escolas/ ou contacte-nos através de madeira@spea.pt 

segunda-feira, 7 de junho de 2021

Espécies invasoras nas ilhas

A 2ª Semana Nacional e 1ª Semana Ibérica sobre Espécies Invasoras decorreu de 29 de maio a 6 de junho de 2021. No âmbito deste evento, a SPEA Madeira e SPEA Açores organizaram um webinar no passado dia 2 de julho “A ameaça das espécies invasoras nas Ilhas”, explicando quais são as espécies invasoras na Madeira e Açores, e apontando alguns dos seus impactes, principalmente nas espécies nativas de fauna e flora. Sendo estes dois arquipélagos considerados como hotspots de biodiversidade, repleto de áreas protegidas e reservas naturais, e cerca de 40 IBA’s, é imperativo a sua conservação.

Pico do Arieiro coberto com giesta (Cytisus scoparius).

Na Madeira ocorrem quatro espécies de aves endémicas: o bis-bis, o pombo-trocaz, a freira-da-madeira e a freira-do-bugio, enquanto que nos Açores têm o priolo e o painho-de-monteiro. As principais ameaças à biodiversidade são a perda de habitat e a introdução de novas espécies (espécies invasoras) que podem causar competição direta e degradação de habitat.


Saiba quais são as espécies das ilhas da Madeira, Açores e Canárias que fazem parte do TOP 100 de espécies invasoras e com maior prioridade de gestão, aqui e aqui. Cerca de 83% das espécies invasoras nestes três arquipélagos correspondem a espécies vegetais. Os restantes 9% e 8% são invertebrados e vertebrados, respetivamente.

Relativamente à flora, as seguintes espécies têm vindo a se demonstrar mais problemáticas nos arquipélagos da Madeira e Açores:

- Folhado ou incenso (Pittosporum ondulatum)

Coroa-de-henrique (A. praecox).
- Giesta (Cytisus scoparius)

- Novelos ou hortências (Hydrangea macrophylla)

- Coroa-de-Henrique ou agapanto (Agapanthus praecox)

- Bananilha ou conteira (Hedychium gardnerianum)

- Gigante (Gumera tinctoria) – apenas em São Miguel, Açores

- Folhado (Clethra arborea) – Nativa na Madeira e invasora nos Açores

Entre muitas outras existentes no Arquipélago da Madeira, tais como as acácias (Acacia sp.), carqueja (Ulex europaeus), abundância (Ageratina adenophora), a cana-vieira (Arundo donax), a tabaqueira (Solanum mauritianum), a maracujá-banana (Passiflora molíssima), a tabaqueira-azul (Nicotiana glauca), o ricínio (Ricinus communis), a avoadeira (Conyza bonariensis), a alpista (Phalaris aquatica), o ácer (Acer pseudoplatanus), o chorão das praias (Carpobrotus edulis), a erva-das-pampas (Cortaderia selloana), as azedas (Oxalis pes-caprae), a tabaibeira (Opuntia tuna), as chagas (Tropaeolum majus), os brincos-de-princesa (Fuschia magellanica), etc. Muitas destas espécies de plantas já sofreram processos de intervenção para controlar a sua dispersão e ocorrência em zonas mais sensíveis. Pode saber mais aqui.


No caso da fauna, a nível dos invertebrados temos espécies de artrópodes como bichos-de-conta (Eluma purpurascens e Armadillidium vulgare), aranhas (Dysdera crocata) e diplópodes (Ommatoiulus moreletii), e espécies de insetos como a formiga-argentina (Linepithema humile), a formiga-louca (Paratrechina longicornis) e o escaravelho-da-palmeira (Rhynchophorus ferrugineus).
Escaravelho-da-palmeira (R. ferrugineus).

No entanto, são os vertebrados são que mais causam prejuízo. O rato-preto (Rattus rattus), o rato-cinzento (Rattus norvegicus), o murganho (Mus musculus) e o gato (Felis silvestris) são os maiores predadores de aves. Estes roedores e felino são os principais causadores do declínio das populações de aves em ilhas. No caso da freira-da-madeira, devido à predação pelos gatos selvagens, há apenas 80 casais nidificantes no Maciço Montanhoso, na ilha da Madeira.

Vestígios da presença de cabras nas Ilhas Desertas.

Já a cabra e o coelho são muito problemáticos por causarem o aumento da erosão do solo, e consequente perturbação das zonas de nidificação de aves marinhas. São realizados pontualmente ações de controlo destas espécies de vertebrados no Arquipélago da Madeira.

Este processo é moroso e contínuo, pelo que toda a ajuda é benéfica. Pode contribuir, em modo ciência-cidadã, inserindo as espécies e sua localização numa aplicação, ou através do site Invasoras. Neste site também são explicadas diversas formas de como controlar espécies invasoras. Faça a sua parte!