segunda-feira, 5 de julho de 2021

Extinções de aves na Ilha da Madeira

Categorias da Lista Vermelha da UICN.

A Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (UICN) é atualmente o sistema mais usado para classificar espécies segundo o seu risco de extinção. Esta lista é apelidada de “barômetro da vida”, pois é um rico sumário de informações sobre as ameaças às espécies, seus requisitos ecológicos, onde vivem e informações sobre ações de conservação que podem ser tomadas para reduzir seu risco de extinção. A categoria a que cada taxon pertence é analisada de acordo com o tamanho e tendência populacional ao longo do tempo, os tipos de habitats, os tipos de ameaças e a sua distribuição geográfica.

A BirdLife International é um dos principais grupos conselheiros no âmbito do Comité de Sobrevivência das Espécies, Species Survival Commission (SSC), responsável pela totalidade da classe Aves, que conta mais de 11,000 espécies. Segundo o site do UICN, há cerca de 14% de aves ameaçadas de apenas 28% de todas as espécies estudadas.

14% das espécies de aves do mundo (uma em cada oito) encontram-se ameaçadas!

No Arquipélago da Madeira, a freira-da-madeira (Pterodroma madeira) é considerada em perigo (EN), e a freira-do-bugio (Pterodroma deserta) está classificada como vulnerável (VU). O bis-bis e o pombo-trocaz/pombo-da-madeira estão ambos classificados como pouco preocupante (LC).

 


Bis-bis (Regulus madeirensis).
A intervenção humana tem influenciado marcadamente a ecologia dos ecossistemas insulares de variadas formas, sendo uma das influências mais profundas a extinção de numerosas espécies. Tal como se registou para outros grupos taxonómicos, o número de extinções de vertebrados registadas a partir do ano de 1600 tem sido mais assinalável em ilhas, com uma taxa de extinção que já atingiu os 95% para os répteis, 85% para as aves, e 58% para os mamíferos (Whittaker 1998).

Columba palumbus maderensis.
Sabia que na Madeira já se extinguiu uma subespécie endémica de pombo?

Columba palumbus maderensis, conhecido como pombo-torcaz-da-madeira, é uma subespécie endémica da Madeira. Esta foi descrita em 1904 por Tschusi, após ter sido enviado para este um espécime macho, colhido pelo Padre Ernesto Schmitz (1845-1922) a 31/01/1904. Desde 1906, este holótipo encontra-se no Museu de História Natural de Viena, Áustria. Está descrito como sendo muito semelhante ao seu congénere europeu, pombo-torcaz (Columba palumbus), diferindo apenas por ser ligeiramente mais escuro e possuir a mancha púrpura no peito mais extensa.

O ornitólogo Ernst Johann Schmitz (também conhecido na Madeira por Ernesto João Schmitz), que viveu na ilha da Madeira entre 1879 e 1908, quando esta ave já era rara, conseguiu, após grandes esforços, recolher apenas alguns espécimes e ovos. Desde 1924 não é avistado nenhum indivíduo desta espécie, tendo sido considerada como extinta em 1994.

Outro exemplo é a provável extinção local do pombo-trocaz ou pombo-da-madeira (Columba trocaz), na ilha de Porto Santo. Este é um animal corpulento e de hábitos gregários, sendo uma das três espécies endémicas de pombo da Macaronésia. O pombo-trocaz apenas existe na ilha da Madeira, mais propriamente na floresta laurissilva, alimentando-se de bagas de til. Nos últimos anos, tem vindo a aumentar a sua área de dispersão, alimentando-se de produções agrícolas e fazendo alguns estragos consideráveis.

Pombo-trocaz (Columba trocaz).
Em 1986, o pombo-trocaz foi considerado “espécie vulnerável” pela UICN e incluído na Diretiva Aves da comunidade europeia, passando a ser proibida a sua caça, que era praticada desde o início da colonização, no século XV. Em 2009, a espécie passou a “não ameaçada”, mantendo o estatuto de “protegida”, momento a partir do qual cresceu e ultrapassou os limites da floresta laurissilva (cerca de 1/5 da área da Madeira). Atualmente estimam que existam cerca de 12.000 a 15.000 indivíduos.

Para minimizar os prejuízos agrícolas, o Governo Regional facultou aos agricultores três tipos de dispositivos – espanta-pássaros a gás, redes de exclusão e fitas holográficas -, mas revelaram-se insuficientes e, por isso, foi autorizado o abate também por caçadores.

É inconcebível autorizar centenas de caçadores para abater uma espécie endémica e protegida, provavelmente sem qualquer controle sobre quantos estão a ser abatidos. A longo prazo isto pode ter efeitos destrutivos na população.

Voltando atrás no tempo... Na Madeira já houve outras aves que se especiaram em novas espécies, mas que, uma vez mais, extinguiram-se devido ao Homem.

Foi publicado na revista Zootaxa, em 2015, um artigo em que se descrevem cinco novas espécies de aves extintas nos Açores e Madeira, presumivelmente no século XV.

Todas estas espécies são mais pequenas do que o seu presumível antepassado: o Frango-d'água Europeu (Rallus aquaticus). Esta é uma ave migratória que pertence à família Rallidae, tratando-se de um grupo muito conhecido por ter colonizado várias ilhas ao longo da evolução. Pensa-se que cerca de 2000 espécies de Rallidae endémicas de ilhas já foram extintas com a chegada do Homem.

Duas destas espécies novas ocorreram na Madeira e no Porto Santo. Nos Açores, seis ilhas foram investigadas em termos paleontológicos e em todas elas foram encontrados fósseis, no entanto apenas foi possível descrever três novas espécies nas ilhas do Pico, de São Miguel e de São Jorge.


Concluindo, as ilhas são um hotspot de biodiversidade, onde se originaram inúmeras subespécies, espécies e até géneros novos para a ciência. Muitos deles não chegaram a ser conhecidos, e atualmente são poucos os que conhecemos. Muitos estão cingidos a uma determinada região, como por exemplo a freira-da-madeira e a freira-do-bugio, o que as tornam ainda mais vulneráveis. Havendo derrocadas, incêndios, envenenamentos, predações, ou tudo num só, pode levar à extinção estas emblemáticas aves, sendo imperativo a sua conservação.




The Red List of the International Union for the Conservation of Nature and Natural Resources (IUCN) is currently the most used system to classify species according to their extinction risk. This list is dubbed the “barometer of life” as it is a rich summary of information about threats to species, their ecological requirements, where they live, and information about conservation actions that can be taken to reduce their risk of extinction. The category to which each taxon belongs is analyzed according to population size and trend over time, habitat types, threat types and their geographic distribution.

BirdLife International is one of the main advisory groups within the Species Survival Commission (SSC) Species Survival Commission, responsible for the entirety of the Birds class, which has more than 11,000 species. According to the IUCN website, there are about 14% of birds threatened out of just 28% of all species studied.
In the Madeira Archipelago, the Zino's petrel (Pterodroma madeira) is considered endangered (EN), and the Desertas petrel (Pterodroma deserta) is classified as vulnerable (VU). Madeira firecrest and Madeira Laurel pigeon are both classified as Least Concern (LC).

Human intervention has markedly influenced the ecology of island ecosystems in various ways, one of the most profound influences being the extinction of numerous species. As recorded for other taxonomic groups, the number of extinctions of vertebrates recorded from the year 1600 onwards has been more remarkable on islands, with an extinction rate that has already reached 95% for reptiles, 85% for birds, and 58% for mammals (Whittaker 1998).

Did you know that in Madeira an endemic pigeon subspecies has already become extinct?

Columba palumbus maderensis, known as Madeira's Wood Pigeon, is an endemic subspecies of Madeira. This was described in 1904 by Tschusi, after a male specimen was sent to him, collected by Father Ernesto Schmitz (1845-1922) on 01/31/1904. Since 1906, this holotype has been found in the Natural History Museum in Vienna, Austria. It is described as being very similar to its European counterpart, Wood Pigeon (Columba palumbus), differing only in being slightly darker and having a most extensive purple spot on the chest.
Ornithologist Ernst Johann Schmitz (also known in Madeira as Ernesto João Schmitz), who lived on the island of Madeira between 1879 and 1908, when this bird was already rare, managed, after great efforts, to collect only a few specimens and eggs. Since 1924, no individual of this species has been seen, having been considered extinct in 1994.

Another example is the probable local extinction of the Madeira Laurel pigeon (Columba trocaz), on the island of Porto Santo. This is a stout animal with gregarious habits, being one of the three endemic species of pigeon in Macaronesia. The barge pigeon only exists on the island of Madeira, more specifically in the laurel forest, feeding on tilde berries. In recent years, its dispersal area has been increasing, feeding on agricultural production and doing some considerable damage.

In 1986, the Madeira Laurel pigeon was considered a “vulnerable species” by the IUCN and included in the European Community's Birds Directive, and its hunting became prohibited, which had been practiced since the beginning of colonization, in the 15th century. In 2009, the species became “non-threatened”, maintaining the status of “protected”, when it grew and surpassed the limits of the laurel forest (about 1/5 of the area of ​​Madeira). It is currently estimated that there are around 12,000 to 15,000 individuals.

To minimize agricultural damage, the Regional Government provided farmers with three types of devices – gas-fired bird scares, exclusion nets and holographic ribbons – but they proved to be insufficient and, therefore, hunting was also authorized.

It is inconceivable to authorize hundreds of hunters to kill an endemic and protected species, probably without any control over how many are being killed. In the long run this can have destructive effects on the population.

Going back in time... In Madeira there were already other birds that speciated in new species, but that, once again, became extinct due to Man.

It was published on the magazine Zootaxa, in 2015, one article where it was described five new species of extinct birds in Azores and Madeira, most likely from the 15th century.

All of these species are smaller than their presumed ancestor: the European Moorhen (Rallus aquaticus). This is a migratory bird that belongs to the Rallidae family, being a group well known for having colonized several islands throughout evolution. About 2000 species of Rallidae endemic to islands are thought to have gone extinct with the arrival of man.

Two of these new species occurred in Madeira and Porto Santo. In the Azores, six islands were investigated in paleontological terms and in all of them fossils were found, however it was only possible to describe three new species in the islands of Pico, São Miguel and São Jorge.

In conclusion, the islands are a biodiversity hotspot, where countless subspecies, species and even genera new to science have originated. Many of them were never known, and currently few are known. Many are confined to a particular region, such as the Zino's petrel and the Desertas petrel, which makes them even more vulnerable. If there are landslides, fires, poisonings, predations, or all in one, these emblematic birds can become extinct, and so, their conservation is imperative.

Sem comentários:

Enviar um comentário