quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Outra forma de fazer ciência

Quando vou de viagem ou passeio pela montanha, gosto de parar e fotografar as espécies de flora que mais me chamam a atenção. Depois, quando chego em casa, fico com vontade de apanhar um manual ou uma guia para tentar identificar as espécies.

Durante estes dois meses na Madeira decidi continuar com este passatempo; e dado que as ilhas são áreas com uma taxa de endemismo muito elevada -devido ao seu isolamento físico-, propus-me a fotografar algumas destas espécies. As imagens de abaixo são espécies vegetais e animais endémicas da Madeira ou da Macaronésia.  

Endémica da Macaronesia
Fotografia 1: Fotografia de uma Erica maderensis (endémica da Macaronesia). Foto de @Anna Cortés  


Fotografia 2: Fotografia de uma Globularia salicina (endémica da Madeira e das Canárias). Foto de @Anna Cortés

Ao contrário de outras vezes, desta vez decidi registar-me e carregar estas fotografias no iNaturalist, uma das principais plataformas de partilha e mapeamento de observações sobre a biodiversidade do mundo. E aproveito a situação para encorajar todos os que lêem este post a inscreverem-se noutros projetos iNaturalist, como o projeto LIFE Natura@night que está a ser levado a cabo pela SPEA.

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When I am travelling or walking in the mountains, I like to stop and photograph these species that catch my eye. Then, when I get home, I am tempted to pick up a guide and try to identify the species. 

During these two months in Madeira, I have decided to continue with this hobby; and given that the islands are areas with a very high rate of endemism -due to their physical isolation-, I set out to photograph some of these species. The following images are endemic species of Madeira or Macaronesia. 

Fotografia 3: Fotografia de uma Teira dugesii subsp. dugesii (endémica da ilha da Madeira). Foto de @Anna Cortés

Unlike other times, this time I decided to register and upload the photos to iNaturalist, one of the main platforms for the sharing and mapping of biodiversity observations around the world. And I would like to take this opportunity to encourage everyone who is reading this post to register and take part in other iNaturalist projects, such as the LIFE Natura@night project being run by SPEA. 

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

A importância dos Voluntários - Ana Amaral

 Olá! Hoje, quero dedicar este post aos voluntários da SPEA Madeira e destacar a importância incrível que eles têm na nossa missão.

Como organização sem fins lucrativos, a SPEA depende da paixão e dedicação de todos os amantes da natureza para apoiar a causa. Os voluntários doam o seu valioso tempo e habilidades para complementar o esforço da nossa equipa, tornando possível o sucesso das atividades na Madeira.


Voluntários na manutenção do jardim da Ponta da Oliveira @Ana Amaral

Recentemente, tivemos a sorte de receber a voluntária Polina Krasnova que nos presenteou com a seguinte mensagem:

“Olá a todos,

O meu nome é Polina Krasnova e recentemente integrei a SPEA como voluntária para uma experiência enriquecedora de duas semanas. Durante o meu tempo aqui, tive a oportunidade de trabalhar no escritório e contribuir para a missão da organização.

Antes de mais, gostaria de expressar a minha profunda gratidão a todos os que fizeram parte do meu percurso na SPEA. A oportunidade de entrar no mundo do trabalho enquanto adolescente é verdadeiramente marcante, e estou sinceramente grata por esta oportunidade.

Inicialmente, encontrar uma oportunidade de voluntariado na Madeira foi um desafio. Dada a pequena dimensão da ilha, a minha idade e o meu conhecimento limitado de português. Entrei em contacto com cerca de 20 organizações e associações, mas a maioria não respondeu ou recusou. No entanto, tive a sorte de a SPEA concordar em receber-me na sua equipa. Esta notícia encheu-me de alegria, pois queria conhecer a vida profissional e contribuir para as associações de animais e aves.

O ambiente dentro da associação é de bondade e dedicação. É verdadeiramente inspirador testemunhar como cada indivíduo partilha o objetivo comum de salvar aves e promover esta importante causa. A minha experiência como voluntária tem sido fantástica e aprendi muitas coisas novas sobre a vida profissional e a Madeira. Não só as pessoas e o ambiente foram acolhedores, como as tarefas que me foram atribuídas também foram muito interessantes. Estas incluíram a conceção de um cartaz e a organização de alfinetes de aves em suportes correspondentes.

Gostaria de agradecer a todos por me terem dado esta oportunidade. Espero sinceramente que consigam atingir todos os vossos objectivos de proteção e preservação das aves, garantindo a sua existência contínua.

Muito obrigada,

Polina Krasnova”

Ao longo dos anos, a SPEA Madeira tem sido “casa” de diversos entusiastas das aves, e mais uma vez abrimos as portas para receber apoio durante um período crítico para as aves marinhas (candidata-te aqui).


 Voluntários na recolha de aves encadeadas @Tiago Dias

Gostaria de aproveitar para deixar o agradecimento a todos os voluntários que, seja por uma semana ou por um período mais longo, apoiaram a SPEA Madeira nas suas atividades de proteção de espécies e seus habitats. A SPEA Madeira não seria a mesma sem o compromisso e apoio incansável de cada um de vocês.

Muito obrigado a todos!

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Hello! Today, I want to dedicate this post to SPEA Madeira's volunteers and highlight the incredible importance they have in our mission.

As a non-profit organisation, SPEA relies on the passion and dedication of all nature lovers to support the cause. Volunteers donate their valuable time and skills to complement the efforts of our team, making the success of activities in Madeira possible.


Volunteers at Ponta da Oliveira garden maintenance @Ana Amaral 

Recently, we were lucky enough to welcome volunteer Polina Krasnova who presented us with the following message:

“Hello everyone,

My name is Polina Krasnova, and I had recently joined SPEA as a volunteer for a fulfilling two-week experience. During my time here, I had the opportunity to work in the office and contribute to the organization's mission.

First and foremost, I would like to express my deep gratitude to everyone who has been a part of my journey at SPEA. The opportunity to enter the world of work as a teenager is truly remarkable, and I am sincerely appreciative of this chance.

Initially, finding a volunteering opportunity in Madeira was a challenge. Given the island's small size and my age and limited knowledge of Portuguese. I reached out to approximately 20 organizations and associations, but the majority either did not respond or declined. However, I was fortunate that SPEA agreed to welcome me into their team. This news filled me with joy, as I wanted to gain insights into work life and contribute to animal and bird associations.

The atmosphere within the association is one of kindness and dedication. It is truly inspiring to witness how each individual shares a common goal of saving birds and promoting this important cause. My experience as a volunteer has been amazing and I have learned a lot of new things about work life and Madeira. Not only were the people and environment welcoming, but the tasks assigned to me have also been very interesting. These included designing a poster and organizing bird pins onto appropriate papers.

I would like to thank everyone for giving me this opportunity. I genuinely hope that you achieve all your goals in protecting and preserving the birds, ensuring their continued existence.

Thank you,

Polina Krasnova”

Over the years, SPEA Madeira has been "home" to several bird enthusiasts, and once again we open our doors to receive support during a critical period for seabirds (apply here).


Volunteers of the stranded bird rescue campaigns @Tiago Dias

I would like to take this opportunity to thank all the volunteers who, whether for a week or for a longer period, supported SPEA Madeira in its activities to protect species and their habitats. SPEA Madeira would not be the same without the commitment and tireless support of each one of you.

Thank you all very much!


terça-feira, 1 de agosto de 2023

As aparências as vezes enganam

Quando viajo para outros países com interesse naturalista, gosto de documentar as espécies que vivem nesses lugares, principalmente aqueles com os quais tenho maior afinidade, como meso e macrocarnívoros, ungulados ou répteis. Como a maioria das ilhas de origem vulcânica que se encontram afastadas do continente, a meso e a macrofauna não costuma estar presente, dada a barreira ecológica que os oceanos representam. As ilhas da Macaronésia não são exceção, pois toda a mesofauna que encontramos na ilha da Madeira e que não pertence ao grande grupo das aves, foi introduzida pela mão do Homem. No entanto, esperava que, na própria ilha, com a grande variedade de microclimas que existem (dois, segundo a classificação de Koppen), fosse possível encontrar uma grande variedade de espécies de répteis terrestres que teriam vindo a colonizar as ilhas de rocha vulcânica. A minha grande surpresa foi quando soube que existia apenas uma espécie de lagarto endémico na Madeira (Teira dugesii dugesii e Teira dugesii selvagens). Esta espécie, no entanto, possui uma grande variedade fenotípica e pode apresentar diferentes tipos de coloração dorsal e ventral, bem como acentuado dimorfismo sexual (ver foto 1). Nos primeiros dias na ilha, se não tivesse um conhecimento prévio da herpetofauna da zona, pode-se interpretar erroneamente que a variedade de espécies de sáurios é muito elevada quando na realidade se trata de uma única espécie com uma grande variedade fenotípica que colonizou toda a ilha e tem uma densidade populacional muito alta. Por isso, gostaria de alertar todos os apaixonados pela natureza que viajam com fins naturalistas, que se dediquem a um curto período de documentação prévia antes de viajar, porque a natureza acaba sempre por surpreender.

Fotografia 1: Fotografa de uma Teira dugesii dugesii macho feita por Adrià Bellmunt Ribas no Jardim Municipal do Funchal.


Desenho 1: Desenho que mostra a variabilidade da coloração ventral nos lagartos madeirenses (Teira dugesii), com os valores de frequência com que aparece em jovens (Jov), machos e fêmeas, segundo Marcos Báez (1990). O desenho da barriga e dos quartos traseiros de Teira dugesii é de Pierre-Louis Oudart (1836).

When I travel to other countries with a naturalist interest, I like to document myself about the species that live in that place. Especially those for which I have a greater affinity, such as meso and macrocarnivores, ungulates or reptiles. Like most islands of volcanic origin that are far from the mainland, meso- and macro-fauna are not usually present there given the ecological barrier that oceans represent. The islands of Macaronesia are no exception, because all the mesofauna that we find on the island of Madeira and that do not belong to the large group of birds, have been introduced by the hand of man. However, I expected that on the island itself, with the great variety of microclimates that exist there (2 according to Koppen's classification), I would find that there would be a great variety of species of terrestrial reptiles that would have come to colonize the volcanic islands. My big surprise was when I learned that there was only one species of endemic lizard (Lacerta dugesii dugesii and Lacerta dugesii salvagens). This species, however, has a great phenotypic variety and can present different types of dorsal and ventral coloring as well as marked sexual dimorphism (see photo 1). During the first days on the island if one does not have prior knowledge about the herpetofauna of the area, one may mistakenly interpret that the variety of saurian species is very high when it is a single species with a large variety phenotypic that has absolutely colonized the entire island and has a very high population density. So, I would like to warn all those passionate about nature who travel for naturist purposes, to dedicate themselves to a short period of prior documentation before traveling because nature always ends up surprising.

Photography 3: Photograph of a male Teira dugesii dugesii taken by Anna Cortés Bullich at the Pico dos Barcelos viewpoint in Funchal.


 Drawing 1: Drawing showing the variability of ventral coloration in Madeiran lizards (Teira dugesii), with the frequency values with which it appears in juveniles (Jov), males and females, according to Marcos Báez (1990). The drawing of the belly and hindquarters of Teira dugesii is by Pierre-Louis Oudart (1836).