segunda-feira, 18 de julho de 2016

Aves de rapina da Madeira (I)

Coruja-das-torres

Na Ilha de Madeira existem 4 aves de rapina: a manta (Buteo buteo harterti), o fura-bardos (Accipiter nisus granti), o francelho (Falco tinnunculus canariensis) e a coruja-das-torres (Tyto alba schmitzi). De todas elas, a única ave de rapina noturna do Arquipélago da Madeira é a coruja-das-torres. 

Pertence à ordem dos Strigiformes, junto aos mochos, e à familia Tytonidae. Tem um comprimento de cerca de 35 cm e uma envergadura entre os 85 - 93 cm. As fêmeas, como geralmente acontece nas aves de rapina, são maiores que os machos. Pode ser facilmente identificada pela sua silhueta em voo e pelo seu chamamento agudo e estridente.


As corujas-das-torres habitam, preferencialmente, zonas de campos agrícolas, com sebes, taludes e matos. Frequentemente nidificam em construções abandonadas, em chaminés, sótãos, celeiros, armazéns ou torres de igrejas, mesmo em cidades de grande dimensão. Noutras situações, frequentam montados e soutos, recorrendo às cavidades das árvores ou rochas para nidificar. Está presente en Europa, América, África, Ásia e Ocêania e estima-se um efectivo populacional de 500.000 indivíduos adultos (Birdlife, 2016). Na Ilha da Madeira a população é sedentária e nidificante, também no Porto Santo. Actualmente há registos frequentes da sua presença nas Desertas, sem confirmação de nidificação. Distribui-se ao longo de toda a Ilha da Madeira, com menor incidência em cotas mais altas como o Paúl da Serra e o Maciço Montanhoso Oriental. Estima-se uma população entre 2500 - 10000 indivíduos com uma tendência estável (Atlas das Aves do Arquipélago de Madeira).

As principais ameaças são à utilização de pesticidas, a redução de roedores nas zonas rurais e o desaparecimento de cavidades naturais e artificiais para nidificação. Também o desenvolvimento das redes viárias e o aumento do tráfego resulta em atropelamentos e na mortalidade a eles associada (Morais, J.C., 2016).

A Coruja não constrói ninho. Os ovos são depositados pela ave nos retiros sombrios onde costuma passar o dia, sobre um tapete de regurgitações. As fêmeas incubam os ovos e os machos trazem alimento. A postura pode variar entre os 2 e os 14 ovos, mais frequentemente situa-se entre 4 e 7.

Ao ser uma ave de rapina nocturna, a coruja desenvolveu uma serie de adaptações relacionadas co ambiente no que se encontra: a noite escura com multitude de pequenos sons. As penas, os olhos e o ouvido são a clave para entender como as corujas podem caçar (Hausmann, L. et al., 2009). 

  • O sistema auditivo das corujas conta com um disco facial cujo bordo é formado por penas rígidas que ajudam a direccionar e até a amplificar os sons para os ouvidos. Assim, a sua face em forma de coração funciona como uma parabólica ajudando a amplificar o som recebido. Outro aspecto importante é a assimetria dos orifícios auditivos e das penas envolventes correspondentes. Um dos ouvidos está mais elevado do que o outro, e este aspecto é determinante na capacidade da ave de isolar e coordinar os sons que recebe. Cada ouvido detecta melhor algumas frequências de som do que o outro e são analisados independentemente pelo cérebro e, dessa maneira, a ave consegue saber a posição correta de quem os emitiu. É devido a estes pormenores que as rapinas nocturnas necessitam de constantes movimentos de cabeça para localiçar à presa. 

  • A estrutura do olho das corujas também é singular. Os bastonetes, células especializadas em captar a luz dos objetos, estão densamente concentrados na região central da retina - a fóvea, onde é a maior a incidência de raios luminosos. Ademais, têm grande capacidade de dilatar a pupila, captando a maior quantidade de luz possível. Nos humanos as fóveas presentam somente células captoras de cor, ou seja, cones. Assim, as corujas não têm uma visão desenvolvida das cores mas sim na percepção da luz. Iso não é nenhuma desvantagem, já que ela está especialmente adaptado à escuridão.
  • A última adaptação das corujas à noite são as penas. O investigador da Universidade de Cambridge Nigel Peake afirma: " Muito do ruído causado por uma asa - seja de um pássaro, avião ou ventoinha - é originado no bordo de pena onde o escoamento de ar sobre a superfície da asa é turbulento. A estrutura da asa de uma coruja reduz o ruído ao suavizar a passagem do ar sobre a asa - dispersando o ruído de modo a que as presas não as oiçam a aproximar-se". As bárbulas das penas de voo (trailing edge fringe) e as bordas laterais (leading edge comb) tenhem pequenos filamentos que têm esta misão.

Bibliografía:
-Morais, J. C. (2016). Vida e Hábitos da Coruja-das-torres. 
-BirdLife International (2016) Species factsheet: Tyto alba. Downloaded from http://www.birdlife.org on 18/07/2016.
-Atlas das Aves do Arquipélago de Madeira. Consultado em http://www.atlasdasaves.netmadeira.com/ no 18/07/2016.
-Hausmann, L. et al. (2009). Improvements of Sound Localization Abilities by the Facial Ruff of the Barn Owl (Tyto alba) as Demonstrated by Virtual Ruff Removal. PLoS ONE 4, 11: e7721.
-Muñoz-Pedreros, A. (2004). Aves rapaces y control biológico de plagas. CEA Ediciones, Valdivia.


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Barn Owl


There are four birds of prey in Madeira: common buzzard (Buteo buteo harterti), macaroneasian sparrowhawk (Accipiter nisus granti), kestrel (Falco tinnunculus canariensis) and barn owl (Tyto alba schmitzi). Among them all, the only nocturnal bird of prey is the barn owl.

Birds from the order Strigiformes and family Tytonidae.  Barn Owl's size is between 33 and 39 cm in length with wingspans ranging from 80 to 95 cm. Females, as usually happens in birds of prey, are larger than males. It can be easily identified by its silhouette in flight and his strident call.

Barn Owls inhabit open areas, including agricultural fields, grasslands and marshes. They nest in hollow trees and in buildings where there is not much human activity. Barn Owls also will use artificial nest boxes. Nests typically are located on the floor of the natural tree cavity or building. It is widespread through Europe, America, Africa, Asia and Oceania and an effective population of 500,000 adults is estimated (Birdlife, 2016). In Madeira Island there is a breeding population, also in Porto Santo. It is distributed throughout the whole island, with a lower incidence in higher points as Paul da Serra and Maciço Montanhoso Oriental. A stable trend population of  2500-10000 individuals has been estatimated (Atlas of the Madeira Archipelago Birds). The main threats for the species are pesticides, reduction of rodents in rural areas and disappearance of natural and artificial cavities for nesting. Also the development of road networks and increased traffic results in accidents and mortality associated with them (Morais, J.C., 2016).


The barn owl does not build nest. The eggs are laid by the bird in the dark retreats where usually spend the day. Females incubate the eggs and the males bring food. The number of eggs can vary between 2 and 14 eggs, most commonly between 4 and 7.

As a nocturnal bird of prey, the barn owl has developed some adaptations in order to hunt during the night, when darkness and different sounds are the rule. Special feathers, a unique auditory system and eyes adapted to the darkness ears are the reason to understand how barn owls can hunt at night (Hausmann, L. et al., 2009).

  • The auditory system of owls has a facial disc surrounded by rigid feathers that help to direct and to amplify the sounds to the ears. Thus, its heart-like face works as a parabolic helping to amplify the incoming sound. Another important aspect is the asymmetry of auditory holes and the corresponding surrounding feathers. One of the ears is higher than the other, and this aspect is crucial in the bird's ability to isolate and coordinate whichever sounds it receives. 
  • The structure of the eye is also special. Rod cells, which are specialized cells to capture light, are heavily concentrated in the central region of the retina - the fovea, where the largest incidence of light rays occurs. Moreover, they have great capacity to dilate the pupil, capturing the greatest amount of light. Thus, the owls do not have a developed color vision but a precise light vision. 

  • The researcher Nigel Peake (University of Cambridge) said:  “Much of the noise caused by a wing – whether it’s attached to a bird, a plane or a fan – originates at the trailing edge where the air passing over the wing surface is turbulent. The structure of an owl’s wing serves to reduce noise by smoothing the passage of air as it passes over the wing – scattering the sound so their prey can’t hear them coming”. Trailing edge fringe, velvety down and leading edge comb have this mission.





Bibliography:
-Morais, J. C. (2016). Vida e Hábitos da Coruja-das-torres. 
-BirdLife International (2016) Species factsheet: Tyto alba. Downloaded from http://www.birdlife.org on 18/07/2016.
-Atlas das Aves do Arquipélago de Madeira. Consultado em http://www.atlasdasaves.netmadeira.com/ no 18/07/2016.
-Hausmann, L. et al. (2009). Improvements of Sound Localization Abilities by the Facial Ruff of the Barn Owl (Tyto alba) as Demonstrated by Virtual Ruff Removal. PLoS ONE 4, 11: e7721.
-Muñoz-Pedreros, A. (2004). Aves rapaces y control biológico de plagas. CEA Ediciones, Valdivia.

1 comentário:

  1. Tenho visto e ouvido regularmente uma fêmea na zona das hortas urbanas dos ilhéus

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