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Categorias da Lista Vermelha da UICN. |
A Lista Vermelha da União
Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (UICN) é
atualmente o sistema mais usado para classificar espécies segundo o seu risco
de extinção. Esta lista é apelidada de “barômetro da vida”, pois é um rico
sumário de informações sobre as ameaças às espécies, seus requisitos
ecológicos, onde vivem e informações sobre ações de conservação que podem ser
tomadas para reduzir seu risco de extinção. A categoria a que cada taxon
pertence é analisada de acordo com o tamanho e tendência populacional ao longo
do tempo, os tipos de habitats, os tipos de ameaças e a sua distribuição
geográfica.
A BirdLife International é um dos
principais grupos conselheiros no âmbito do Comité de Sobrevivência das
Espécies, Species Survival Commission (SSC), responsável pela totalidade da
classe Aves, que conta mais de 11,000 espécies. Segundo o site do UICN, há cerca de 14% de aves ameaçadas de apenas 28% de todas as espécies estudadas.
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14% das espécies de aves do mundo (uma em cada oito) encontram-se ameaçadas! |
No Arquipélago da Madeira, a
freira-da-madeira (Pterodroma madeira) é considerada em perigo (EN), e a freira-do-bugio
(Pterodroma deserta) está classificada como vulnerável (VU). O bis-bis e o
pombo-trocaz/pombo-da-madeira estão ambos classificados como pouco preocupante
(LC).
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Bis-bis (Regulus madeirensis). |
A intervenção humana tem influenciado marcadamente a
ecologia dos ecossistemas insulares de variadas formas, sendo uma das
influências mais profundas a extinção de numerosas espécies. Tal como se
registou para outros grupos taxonómicos, o número de extinções de vertebrados
registadas a partir do ano de 1600 tem sido mais assinalável em ilhas, com uma
taxa de extinção que já atingiu os 95% para os répteis, 85% para as aves, e 58%
para os mamíferos (Whittaker 1998).
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Columba palumbus maderensis. |
Sabia que na Madeira já se
extinguiu uma subespécie endémica de pombo?
Columba palumbus maderensis,
conhecido como pombo-torcaz-da-madeira, é uma subespécie endémica da Madeira. Esta
foi descrita em 1904 por Tschusi, após ter sido enviado para este um espécime
macho, colhido pelo Padre Ernesto Schmitz (1845-1922) a 31/01/1904. Desde 1906,
este holótipo encontra-se no Museu de História Natural de Viena, Áustria. Está
descrito como sendo muito semelhante ao seu congénere europeu, pombo-torcaz (Columba
palumbus), diferindo apenas por ser ligeiramente mais escuro e possuir a
mancha púrpura no peito mais extensa.
O ornitólogo Ernst Johann Schmitz
(também conhecido na Madeira por Ernesto João Schmitz), que viveu na ilha da
Madeira entre 1879 e 1908, quando esta ave já era rara, conseguiu, após grandes
esforços, recolher apenas alguns espécimes e ovos. Desde 1924 não é avistado
nenhum indivíduo desta espécie, tendo sido considerada como extinta em 1994.
Outro exemplo é a provável
extinção local do pombo-trocaz ou pombo-da-madeira (Columba trocaz), na ilha de Porto Santo. Este é um animal corpulento e de hábitos gregários, sendo uma das três espécies endémicas de pombo da Macaronésia. O pombo-trocaz apenas existe na ilha da Madeira, mais propriamente na floresta laurissilva, alimentando-se de bagas de til. Nos últimos anos, tem vindo a aumentar a sua área de dispersão, alimentando-se de produções agrícolas e fazendo alguns estragos consideráveis.
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Pombo-trocaz (Columba trocaz). |
Em 1986, o pombo-trocaz foi considerado “espécie vulnerável” pela UICN e incluído na Diretiva Aves da comunidade europeia, passando a ser proibida a sua caça, que era praticada desde o início da colonização, no século XV. Em 2009, a espécie passou a “não ameaçada”, mantendo o estatuto de “protegida”, momento a partir do qual cresceu e ultrapassou os limites da floresta laurissilva (cerca de 1/5 da área da Madeira). Atualmente estimam que existam cerca de 12.000 a 15.000 indivíduos.
Para minimizar os prejuízos agrícolas, o Governo Regional facultou aos agricultores três tipos de dispositivos – espanta-pássaros a gás, redes de exclusão e fitas holográficas -, mas revelaram-se insuficientes e, por isso, foi autorizado o abate também por caçadores.
É inconcebível autorizar centenas de caçadores para abater uma espécie endémica e protegida, provavelmente sem qualquer controle sobre quantos estão a ser abatidos. A longo prazo isto pode ter efeitos destrutivos na população.
Voltando atrás no tempo... Na Madeira já houve outras aves que se especiaram em novas espécies, mas que, uma vez mais, extinguiram-se devido ao Homem.
Foi publicado na revista Zootaxa, em 2015, um artigo em que se descrevem cinco novas espécies de aves extintas nos Açores e Madeira, presumivelmente no século XV.
Todas estas espécies são mais pequenas do que o seu presumível antepassado: o Frango-d'água Europeu (Rallus aquaticus). Esta é uma ave migratória que pertence à família Rallidae, tratando-se de um grupo muito conhecido por ter colonizado várias ilhas ao longo da evolução. Pensa-se que cerca de 2000 espécies de Rallidae endémicas de ilhas já foram extintas com a chegada do Homem.
Duas destas espécies novas ocorreram na Madeira e no Porto Santo. Nos Açores, seis ilhas foram investigadas em termos paleontológicos e em todas elas foram encontrados fósseis, no entanto apenas foi possível descrever três novas espécies nas ilhas do Pico, de São Miguel e de São Jorge.
Concluindo, as ilhas são um hotspot de biodiversidade, onde se originaram inúmeras subespécies, espécies e até géneros novos para a ciência. Muitos deles não chegaram a ser conhecidos, e atualmente são poucos os que conhecemos. Muitos estão cingidos a uma determinada região, como por exemplo a freira-da-madeira e a freira-do-bugio, o que as tornam ainda mais vulneráveis. Havendo derrocadas, incêndios, envenenamentos, predações, ou tudo num só, pode levar à extinção estas emblemáticas aves, sendo imperativo a sua conservação.