"A pesca e os recursos marinhos Ibéricos"
Para
esta semana uma “fotografia literária” sobre a pesca e os recursos marinhos em
Portugal e a Espanha. História, cultura e formas de vida são algumas
semelhanças que partilham estes paises vizinhos...
"Fisheries and marine resources Iberians"
For
this week a "snapshot literary" on fisheries and marine resources in Portugal and Spain. History,
culture and ways of life are some similarities they share these neighboring
countries…
Soledad Álvarez
“G
|
randes
descobridores”. Esta
é uma caraterística que identifica a História do povo português. Uma história
que vincula fortemente, até o dia de hoje, a população com o mar.
Se calhar a situação geográfica de
Portugal, na costa mais ocidental do continente europeu, influenciou a que, a
partir do século XV, os portugueses começassem a envolver-se nas aventuras e
desventuras dos grandes e, até aquele momento, desconhecidos oceanos. O
contributo dos portugueses à navegação foi essencial no desenvolvimento da
ciência náutica, da cartografia e da astronomia. Foram os primeiros em
construir navios capazes de navegar com segurança em mar aberto, no Atlântico.
Nomes como o Infante Dom Henrique de
Avis (Porto, 1394 – Sagres, 1460) ou Vasco de Gama (Sines, 1460/1469?-Índia,
1524) marcaram tanto a história dos portugueses como a história da navegação
mundial. Não é de estranhar, portanto, que seja tão forte a ligação dos
portugueses com o mar, e que a história tivesse deixado marcas na cultura do
país. Uma destas heranças é a pesca, um setor relevante na economia portuguesa.
Enquanto a cadeia produtiva de pescado gera elevado número de empregos, o
pescado é um componente fundamental na dieta portuguesa.
A situação periférica dentro da Europa
e as caraterísticas geográficas do país, contribuem favoravelmente na
exploração física dos recursos marinhos. Portugal tem 2.830 km de costa (quase
60% do perímetro nacional), incluindo Açores e Madeira, e uma Zona Económica
Exclusiva (ZEE) de 1.656.402 km2. A costa continental faz parte duma
zona de transição para ecossistemas mais quentes e, por essa razão, tem elevada
diversidade de espécies de pescado. No entanto, dados mais recentes apontam
para uma diminuição na sua abundância (Plano Estratégico Nacional para a Pesca,
2007-2013). Nesta conjuntura, Portugal é
o país com maior consumo de pescado da União Europeia e o terceiro do mundo,
após o Japão e a Islândia. Os portugueses consumem entre 55-60 kg/ano de peixe,
entanto que a média da U.E. centra-se nos 22,7 kg. A produção portuguesa
atinge, unicamente, 23 kg/ano por habitante, de forma que a restante procura é
coberta por via da importação, sendo Espanha a principal origem (60% do pescado
importado).
A pesca, portanto, é uma atividade
económica importante embora, atualmente, o seu peso no P.I.B. não supere 1%. A
diminuição na importância económica da atividade provavelmente está relacionada
com o decréscimo na quantidade de pescado descarregado, como consequência da
redução global dos recursos pesqueiros (L. Ferraz de Arrua et al., 2011). No que concerne às espécies, a sardinha é o peixe
capturado em maior quantidade, seguindo-se da cavala, atum e carapau (Gráfico 1).
Importa destacar que a captura de sardinha supera, em grandes quantidades, as
restantes capturas. Tradicionalmente, a sardinha é um alimento muito utilizado
na culinária portuguesa, sendo habitual o seu consumo ao longo do ano.
Gráfica 1.
Capturas
nominais de pescado em Portugal para o período 2002-2012.
Fonte:
Instituto Nacional de Estatística.
Em referência à frota pesqueira
portuguesa, são quase 8.300, as embarcações dedicadas à atividade e juntos
superam as 100.000 GT de arqueação. A percentagem de distribuição das mesmas é:
·
79%
Portugal continental
·
16%
Açores
·
5%
Madeira
É evidente, portanto, que esta fonte
de recursos, tão necesária para a sociedade portuguesa, há-de estar de alguma
forma controlada e inclusivamente protegida, com o objetivo de não esgotar os
recursos marinhos e mantê-los renováveis. Assim, de toda a história e
atividades pesqueiras desenvolvidas no país e juntamente com a Política Comúm
para a Pesca da U.E., surgem as normas e legislação para a preservação do mar e
dos oceanos. A política portuguesa está encaminhada para uma dimensão “social”
com o objetivo da segurança alimentar e da segurança ambiental da atividade. Em
geral, esta legislação pretende manter a pesca sustentável dos ecossistemas
mais frágeis e prioriza:
·
Tamanhos
mínimos de espécies comercialmente importantes
·
Limita
artes de pesca
·
Delimita
períodos de repouso biológico
Espanha
Se passamos a analizar a situação da
pesca no país vizinho, Espanha, encontramos muitas analogias. Semelhanças nas
origens, nos grandes descobridores, nas heranças recebidas, e um povo (sobretudo
em algumas regiões) muito ligado ao mar.
O objetivo principal da
administração pública não é muito diferente dos objetivos de Portugal. A
conservação dos recursos pesqueiros de forma responsável, fornecendo
sustentabilidade às populações de peixes, e a garantia da continuidade da
atividade à comunidade pesqueira, constituem os pontos principais na política
espanhola.
Espanha,
juntamente com Dinamarca, são os países da UE com maiores volumes de produção.
Ainda assim, nos últimos trinta anos assistimos a uma queda progressiva nos
empregos deste setor. Importa referir que embora a participação da pesca no
emprego e no PIB nacional seja modesta, a sua importância socioeconómica é
muito grande em determinadas áreas do país que estão altamente especializadas numa
atividade, e onde mais que um emprego, constituem formas de vida.
A crise deste setor deve-se a vários
fatores como a nacionalização do mar, a partir da década dos 60, o
desenvolvimento das frotas pesqueiras dos paises em vias de desenvolvimento, as
dificuldades de acesso a caladeiros de terceiros países e o esgotamento de
caladeiros nacionais.
Os
dados indicam que no periodo 1992-2012 desapareceram 52.000 postos de trabalho
(63% dos empregos existentes). Além disso, no período 1990-2010 houve uma
quebra na extração de peixe de quase 500 mil toneladas. A principal
consequência desta situação foi que a pesca artesanal ficou quase em extinção,
e as causas do declive nesta arte de pesca são:
Þ
Potencialização
de embarcações de maior tamanho (subvenções)
Þ
Sobre-exploração
da pesca
Þ
Falta
de políticas para os pescadores menores
Com
estas condições, a capacidade pesqueira das embarcações de menor tamanho decresceu
34%, e a frota industrial (>2 mil Tm) aumentou cerca de 70%.
Apesar
desta situação decrescente, o volume da frota no âmbito da UE, só é superado
por Grécia e Itália. Espanha tem mais de 10.000 embarcações e conta com a maior arqueação e maior potência da frota da
UE, mais de 380.000 Gt e 1.185.000 kW respetivamente.
Desta forma, ainda que Espanha e
Portugal diferenciem-se em termos quantitativos, em termos relativos e em
referência à pesca, são países muito similares. Obviamente ambos têm políticas semelhantes,
resultantes da adoção das normativas europeias e, portanto, as políticas gerais
sobre a pesca estão encaminhadas para um objetivo comum. Mas, além desse objetivo
comum, estes países ibéricos compartem origens de desenvolvimento da atividade,
culturas populares, formas de vida ligadas ao mar, mares que formam parte das
vidas, e portanto, origens também comuns. A este respeito conclui-se que, entre
Portugal e Espanha, origens, caminhos e objetivos são comuns entre estas duas
culturas irmãs.
BIBLIOGRAFIA
- FERRAZ DE ARRUDA, L. et. al. O setor pesqueiro em Portugal-Relato de caso. Bol. Inst. Pesca, 37(2): 199 – 207. São Paulo, 2011.
- Portugal. Instituto Nacional de Estatística (2010). Estatísticas de Pesca 2010. Lisboa.
- Portugal. Ministério de Defesa Nacional. Estratégia Nacional para o Mar (2006-2016). Lisboa.
- CERRILLO, A. El empleo en el sector pesquero se ha reducido un 63% en 20 años en España. La vanguardia, Barcelona. 06/05/2013
- SITE WEB: Instituto Nacional de Estatística. http://www.ine.pt [Consulta: 10-09-2013]
- Agência Portuguesa do Ambiente. http://www.apambiente.pt/ [Consulta: 09-09-2013]
- Plano Ordenamento Espaço Marítimo. http://poem.inag.pt/ [Consulta: 05-09-2013]
- Conservation of Marine Protected Species in Mainland Portugal. http://marprolife.org/ [Consulta: 06-09-2013]
- Plano Estratégico Nacional para a Pesca 2007-2013 (2007). http://ec.europa.eu/fisheries/cfp/eff/national_plans/list_of_national_strategic_plans/portugal_pt.pdf [Consulta: 16-09-2013]
- Ministerio de Agricultura, Alimentación y Medio Ambiente. Gobierno de España. http://www.magrama.gob.es/es/ [Consulta: 23-09-2013]
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