quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Monitorização de uma colónia de cagarras (Calonectris borealis)

Pelo segundo ano, a SPEA Madeira visitou a colónia de cagarra (Calonectris borealis) no âmbito do programa INTERREG EELabs e LIFE Natura@Night. Várias informações foram recolhidas durante estas visitas, a fim de compreender melhor o comportamento desta espécie na ilha da Madeira: recolha de dados biométricos, colocação de anilhas e GPS-Loggers durante a época de alimentação das crias.


Cagarra (Calonectris borealis). Foto : Elisa Texeira.



As aves marinhas são o grupo de aves mais ameaçado do mundo. Devido à sua ecologia, a sua distribuição e comportamento no mar ainda é pouco conhecida. No entanto, é no mar que passam a maior parte da sua vida, vindo apenas a terra para nidificar.

A compreensão do comportamento desta ave marinha é, portanto, importante para desenvolver medidas de proteção da espécie. Uma destas medidas diz respeito à redução do impacto da poluição luminosa sobre as aves marinhas. 


De facto, as aves marinhas são vulneráveis à iluminação durante a noite. Devido aos seus olhos sensíveis, as aves marinhas podem ser desorientadas pela nossa luz artificial. Isto pode fazê-las colidir com infraestruturas, ser atropeladas, tornar-se presas para cães e gatos, ou mesmo morrer de desidratação. Isto diz mais respeito aos juvenis que, quando deixam o ninho para o seu primeiro voo, devido à falta de experiência, são afetados pela iluminação pública. Este comportamento de atração e deslumbramento pela luz artificial ainda não é bem compreendido, porém uma das explicações seria que as aves marinhas se orientam à noite pelas estrelas.


A utilização do GPS-Logger permitir-nos-á aprender mais sobre os movimentos desta ave no mar para encontrar alimento. Também nos permitirá compreender a potencial influência da luz artificial nas suas migrações.

A anilhagem dos indivíduos permite-nos ter uma identificação única para cada ave a fim de os seguir ao longo dos anos. Consiste na colocação de uma pequena anilha metálica com um número único à volta da perna da ave. Isto permitir-nos-á saber onde a ave foi anilhada e, portanto, aferir o movimento da ave ao longo dos anos. 


Foto: Tiago Dias.

Durante 5 noites consecutivas, visitamos a colónia de cagarras (Calonectris borealis) antes do anoitecer. Depois de nos instalarmos na colónia, esperámos pelo cair da noite e pela chegada dos indivíduos ao ninho para começar a recolher dados. De facto, os pais revezam-se no ninho para alimentar a cria depois do pôr-do-sol.


Em cada ninho, a ave foi retirada do seu ninho com auxílio de um par de luvas. A técnica consiste em esperar que a ave agarre o dedo com o seu bico e depois puxá-lo para fora pelo bico. A remoção da ave do ninho foi feita com muito cuidado para evitar feri-la. A ave foi então delicadamente manuseada para realizar as várias medições biométricas: peso, comprimento da asa, comprimento do bico e comprimento do tarso. A identificação do sexo só foi possível durante as vocalizações. As penas foram também recolhidas para análise genética dos isótopos.


Captura de um adulto. Foto: Elodie Crepin.



O GPS-Logger foi instalado na parte de trás da ave utilizando fita-cola e super-cola. Algumas penas foram reunidas, o GPS-Logger foi colocado com a fita, para que o dispositivo não se perdesse. Estes GPS não transmitem informação permanentemente ou a um certo intervalo, mas armazenam informação. Isto significa que precisamos de voltar dentro de algumas semanas para obter o GPS de volta e descarregar a informação. 

O processo de instalação de Loggers requer a monitorização inicial dos ninhos. O objectivo é encontrar adultos reprodutores que tenham uma cria para cuidar, pelo que farão várias viagens entre a costa e o mar a fim de a alimentar. Por outras palavras, estão constantemente a regressar ao ninho, permitindo-nos recolher o Logger e não perder o dispositivo e consequentemente os dados. Este é um processo demoroso porque quanto mais as crias crescem, menos frequentemente os pais vêm alimentá-las, e mais provável é que não nos cruzemos com eles para instalar ou recolher os Loggers. 










GPS utilizado este ani. Foto: Elodie Crepin.



Colocação de um GPS-Logger num adulto. Foto: Elodie Crepin.



A fim de evitar a manipulação do mesmo indivíduo duas vezes, as aves foram sistematicamente marcadas com batom na sua plumagem depois de terem sido efectuado as medições biométricas. 


Este ano, identificámos 16 ninhos ocupados. Dos 25 dispositivos GPS planeados, 18 foram instalados com sucesso nos indivíduos da colónia.

A instalação do GPS pode ser um verdadeiro desafio. De facto, mover-se em falésias íngremes nem sempre é fácil e requer uma boa condição física. Além disso, a instalação do GPS requer boas condições meteorológicas. De facto, a presença de chuva não é ideal para a instalação do GPS. Em primeiro lugar, torna difícil e perigoso caminhar sobre a falésia, mas também aumenta o risco de perder o GPS devido à perda de eficácia da cola. Também enfrentamos outras dificuldades no campo, tais como o tamanho e a profundidade dos ninhos. Em alguns casos, foi impossível colocar um GPS devido ao pequeno tamanho da entrada dos ninhos. Nesta situação, a ave não seria capaz de entrar no ninho com o GPS nas costas, o que não era desejado. Noutros casos, a instalação do GPS era impossível devido à profundidade dos ninhos, o que tornava impossível a captura das aves. Finalmente, a colocação do GPS foi também dificultada devido à ausência de um adulto no ninho no momento da nossa visita.


O passo seguinte é agora a recaptura dos adultos para recuperar o GPS. Esperamos ser capazes de recuperar a maioria dos GPS, a fim de recolher uma quantidade significativa de dados sobre os seus movimentos.


A continuar no próximo episódio...











Monitoring of a Cory's shearwater colony


For the second year, SPEA Madeira visited the colony of Cory’s Shearwater (Calonectris borealis) in the framework of the INTERREG EELabs programme and LIFE Natura@Night. Various information were collected during these visits in order to better understand the behaviour of this species in the Madeira Island: collecting biometric data, placing rings and GPS-Loogers during the chicks feeding season.


Cory's Shearwater (Calonectris borealis). Picture: Elisa Texeira.


Seabirds are the most threatened group of birds in the world. Due to their mobile and dispersed ecology, their distribution and behaviour at sea is still little known. However, it is at sea where they spend most of their lives, coming ashore only for breeding.

Understanding the behaviour of this seabird is therefore important in order to develop measures to protect the species. One of these measures concerns the reduction of the impact of light pollution on seabirds. 


Indeed, seabirds are vulnerable to our illumination at night. Due to their sensitive eyes, seabirds can be disoriented by our artificial light. This can cause them to crash into infrastructure, get run over, become prey for dogs and cats, or even die of dehydration. This concerns more specifically the juveniles when they leave the nest for their first flight. This behaviour of attraction and dazzlement by artificial light is still not well understood. One explanation would be that seabirds orient themselves at night with the stars.


The use of GPS will allow us to learn more about the movements of this bird at sea to find food. It will also allow us to understand the potential influence of artificial light on their movement.

The ringing of individuals allows us to have a unique identification for each bird in order to follow them over the years. It consists of placing a small metal ring with a unique number around the leg of the bird. This will allow us to know where the bird was ringed and therefore to determine the movement of the bird over the years.


Picture: Tiago Dias.



For 5 consecutive nights, we visited the Cory’s Shearwater (Calonectris borealis) colony before nightfall. After settling in the colony, we waited for nightfall and the arrival of the individuals at the nest to start collecting data. Indeed, the parents take turns at the nest to feed the chick after the night has fallen.

In every nest, the bird was removed from its nest with a pair of gloves. The technique consists of waiting for the bird to grab the finger with its beak and then pulling it out by the beak. The removal of the bird from the nest was done with great care to avoid injuring them. The bird was then gently handled in order to perform the various biometric measurements : weight, wing length, beak length and tarse length. The identification of the sex was only possible during vocalizations. Feathers were also collected for genetic analysis.


Capture of an adult. Picture: Elodie Crepin.


The GPS was installed on the back of the bird using cloth tape and superglue. A few feathers were gathered together, the logger was placed and wrapped with the tape, so that the bird was not hindered and the device was not lost. These GPS do not transmit information permanently or at a certain interval, but store information. It means that we need to come back in a few weeks to get the GPS back and download the information. 

The process of installing loggers requires initial nest monitoring. The aim is to find a couple of shearwaters that have a chick to look after, so they will make several trips between the coast and the sea in order to feed it. In other words, they are constantly returning to the nest, allowing us to collect the logger and not lose the device or the data. This is a lengthy process because the more the chicks grow, the less often the parents come to feed them, and the more likely it is that we will not cross paths with them to install or collect loggers. 










GPS used this year. Picture: Elodie Crepin.


Putting a GPS-Logger on an adult. Picture: Elodie Crepin.


In order to avoid the manipulation of the same individual twice, the birds were systematically marked with lipstick on their plumage after taking the biometric measurements. 


This year we identified 16 nests that were occupied. Of the 25 GPS devices planned, 18 were successfully installed on the individuals in the colony.

The installation of GPS can be a real challenge. Indeed, moving on steep cliffs is not always easy and requires a good physical condition. Besides, the installation of GPS requires good meteorological conditions. Indeed, the presence of rain is not ideal for the installation of GPS. First of all it makes walking on the cliff difficult and dangerous but it also increases the risk of losing the GPS due to a loss of effectiveness of the glue when installing the GPS. We also faced other difficulties in the field, such as the size and depth of the nests. In some cases, it was impossible to place a GPS due to the small size of the nest entrance. In this situation, the bird would not be able to enter the nest with the GPS on its back which was not wanted. In other cases, the installation of GPS was impossible due to the depth of the nests, which made it impossible to capture the birds. Finally, the placement of GPS was also made difficult due to the absence of an adult in the nest at the time of our visit.



The next step is now the recapture of the adults to recover the GPS. We hope to be able to recover the majority of the GPS's in order to collect a significant amount of data on their movements.


To be continued in the next episode…


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