Os trabalhos de monitorização, colocação e recolha de GPS tem continuado e têm sido feitos essencialmente à noite. É à noite em que a maioria da população dorme e notamos que as avenidas e ruas mudam completamente, sendo possível percecionar os seres da noite ativos ao mesmo tempo que a maioria da população dorme profundamente.
Durante uma das viagens de regresso a casa, após uma jornada
de trabalhos na colónia de cagarras, dei por mim a pensar como a divisão entre
o dia e a noite, traduzida em luz e escuridão, é mais do que uma questão física.
É, também uma necessidade social e
cultural fundamental a todos os povos do Mundo. Em que durante a noite a
prioridade é dormir e durante o dia predominam as atividades laborais.
E, mesmo com que iluminação em todas as ruas, existe a
sensação de não estarmos seguros e por qualquer motivo temos medo da noite. Mas
porque tememos tanto o escuro?
Vila madeirense. © Manuel Contreras |
A resposta pode ser tão simples enquanto complexa, e para percebermos
temos que pensar nos nossos antepassados e como a nossa espécie foi
transportada pela história evolutiva.
Durante milhares de anos, os nossos antepassados não tiveram
proteção durante a noite, estando altamente expostos e vulneráveis a potenciais
predadores noturnos, ao longo de milhares de anos essa exposição trouxe o medo
como resposta evolutiva. Como resultado, surgiram muitas gerações a serem
selecionadas a mostrarem determinados comportamentos. De uma forma simplista,
podemos alegar que os indivíduos que não temiam ao escuro acabavam por ser
predados, reduziam a hipótese de sobrevivência, acabando assim por ser
selecionados aqueles que tinham medo do escuro.
Se olharmos para os nossos cérebros como “máquinas” de
processamento de informação, percebemos que estes tentam ao máximo reduzir a
incerteza daquilo que temos ao nosso redor, construindo narrativas de modo que
as coisas nos façam sentido. À noite e no escuro, reduz-se a adquisição de
informação sensorial através da visão, ficando o processamento de informação
limitado, potenciando a criação de narrativas para tentar explicar o que não
vemos. Por este motivo, alguns de nós vê monstros e fantasmas durante noite,
assumimos que a noite representa perigo e intuitivamente temos medo do escuro.
© Manuel Contreras |
Isto levou a que o ser humano conseguisse levar luz às ruas
e com isso a colocação de candeeiros e iluminação publica. Ao longo de anos
foram colocados milhões de postes e candeeiros de iluminação publica, contribindo para que deixássemos algum medo de lado e começássemos a ser sociáveis à noite.
© Manuel Contreras |
Entramos numa nova fase e a iluminação passou a ser uma exigência. Agora durante noite existe iluminação suficiente que pareça dia, e milhares de candeeiros deixam áreas urbanas densamente iluminadas, muitas vezes sem necessidade.
É fundamental haver a sensação de segurança pública, mas é
importantíssimo cumprir os requisitos de eficiência enérgica, evitar a poluição
luminosa, e garantir o equilíbrio ambiental.
A boa instalação de iluminação publica, bem projetada e de
forma eficiente, permite reduzir o gasto de energia entre 60 e 70%, economizando milhões
de euros por ano.
Na SPEA temos vindo a trabalhar nestas temáticas, no combate à poluição luminosa para proteção dos nossos seres da noite. Saiba mais sobre
este trabalho em:
Why are we afraid of the dark?
The work of monitoring, placing, and collecting GPS has continued. This work has been done essentially at night. It is at night when the majority of the population sleeps and we notice that the avenues and streets change completely, being possible to perceive the beings of the night active at the same time as the majority of the population sleeps deeply.
During one of the trips back home, after a day of work in the Cagarras's colony, I found myself thinking how the division between day and night, translated into light and darkness, is more than a physical matter. It is also a social and cultural need, fundamental to all the peoples of the world. During the night the priority is to sleep and during the day work activities are predominant.
And even with that lighting in every street, there is a feeling that we are not safe and for whatever reason, we are afraid of the night. But why do we fear the dark?
© Manuel Contreras |
The answer can be as simple as it is complex, and to understand it we have to think back to our ancestors and how our species was carried through evolutionary history.
For thousands of years our ancestors had no protection at night, being highly exposed and vulnerable to potential nocturnal predators, over thousands of years this exposure brought fear as an evolutionary response. As a result, many generations emerged to be selected to show certain behaviors. In a simplistic way, we can claim that the individuals that did not fear the dark ended up being predated and reduced the chance of survival, thus ending up being selected by those who were afraid of the dark.
If we look at our brains as information processing "machines", we realize that they try their best to reduce the uncertainty of what we have around us, building narratives so that things make sense to us. At night and in the dark, the acquisition of sensorial information through vision is reduced, and the processing of information is limited, thus increasing the creation of narratives to try to explain what we don't see. For this reason, some of us see monsters and ghosts at night, we assume that the night represents danger and we intuitively fear the dark.
© Manuel Contreras |
A well-designed, efficient public lighting system can reduce energy consumption by 60-70%, saving millions of euros per year.
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